sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Tropa de elite 2

Intenso e catártico


Direção: José Padilha
Título original: Tropa de Elite 2
Duração: 116 min
Idioma: Português
Lançamento: Out/2010

O Coronel (antigo Capitão) Nascimento já foi capa de revista e praticamente todo e qualquer veículo de comunicação mencionou seu nome de uma maneira ou de outra. Tudo que me resta, ainda mais depois de tanto tempo após o pico da euforia, é validar a opinião da esmagadora maioria: o filme é realmente fantástico. Ainda mais inteligente que o primeiro, Tropa de Elite 2 é uma continuação que supera com folga, uma primeira empreitada que já tinha obtido muito sucesso. Mal e mal comparando, remete às duas partes de Kill Bill de Quentin Tarantino: indissociáveis, mas absolutamente diversas em sua essência. Enquanto a primeira parte (de ambos os filmes) exalava hormônios e abusava da ação e violência em uma trama honestamente direta, a segunda parte apela para sentimentos mais complexos, dá mais profundidade aos personagens e exige mais maturidade e reflexão de seus expectadores sem nunca deixar de ser entretenimento. Trama articulada, interpretações impecáveis de praticamente todo o elenco (falar de Wagner Moura é chover no molhado), alta qualidade das cenas de ação, diálogos realistas e emoções sinceras... Enfim, Tropa de Elite 2 é obrigatório para qualquer cinéfilo que se preze. Longe do escopo desse blog analisar os aspectos políticos, sociológicos e éticos do filme (ainda mais nessa nova fase de "microposts"), mas certamente o filme é uma experiência catártica que pode tanto suscitar quanto destroçar a esperança de qualquer brasileiro no futuro de seu país.

A lenda dos guardiões

Corujas são sérias demais


Direção: Zack Snyder
Título original: Legend of the Guardians: The owls of Ga'Hoole
Duração: 97 min
Idioma: Inglês
Lançamento: Out/2010

Em termos técnicos de animação, A Lenda dos Guardiões é nota 10: perfeccionismo nos detalhes, cenários embasbacantes e, certamente, efeitos 3D de ponta (assumo pelo tipo das cenas, mas vi em 2D mesmo). Em termos de roteiro, a base maior com a guerra entre os "Puros" e os "Guardiões" (ou do "bem" e do "mal") segue elementos narrativos clássicos que já comprovaram sua efetividade uma centena de vezes e seria muito difícil errar com ele.

O que torna o filme um "equívoco", mas não necessariamente um filme ruim são todas as outras escolhas estéticas e de direção de Zach Snyder. Ainda que elas dêem "personalidade" ao filme, sendo possível reconhecer muitos maneirismos do diretor nele, também fazem com que não consiga achar um público ou um gênero específico que queira atingir.

Para começar, a vontade de criar corujas o mais realistas possível fez com que, como no mundo real, fosse impossível individualizar cada uma delas.  Depois de uma hora e meia de filme, eu só conseguia saber quem era quem pelos diálogos e pelas vozes, mas não conseguia, por exemplo, identificar no meio de uma fileira de corujas quem era o irmão do protagonista. Também é difícil entender quais emoções os personagens estão expressando, já que a gama de feições de uma coruja de verdade é bastante limitada.

As tomadas em câmera lenta estilo 300 e a trilha sonora à God of War dão um tom épico exagerado que beira o paródico, o que provavelmente não era a intenção original do diretor. Parece que, ao invés de confiar no poder intrínseco do seu roteiro, fosse necessário validar com elementos externos a grandiosidade que cada uma das cenas deveria ter.

Além disso, o filme é sério demais para agradar o público infantil e ingênuo demais para agradar o público adulto. Há pouco humor no filme, e o que há é excessivamente "britânico" para agradar a maioria dos expectadores e há muita violência considerando-se que é uma animação com corujas que falam e então supostamente voltada ao público infantil.

Se esses elmentos já não fossem o bastante, em termos de construção de personagens, as emoções no filme são rotuladas e não sentidas. Você sabe que o irmão do protagonista não é confiável porque o roteiro quis que assim fosse e não porque as motivações dele foram evoluindo nesse sentido. Você sabe que a cobra é o "coração" do grupo principal porque assim foi anunciado por um dos personagens e não porque as ações dela tenham justificado o rótulo.

A lenda dos guardiões está muito longe de ser ruim como Sucker Punch, mas assim como nesse outro filme de Snyder, ele parece mais preocupado em impressionar com a última tecnologia da moda e com poses e rufar de tambores do que efetivamente contar uma estória.