sexta-feira, 29 de abril de 2011

Como você sabe


Como torturar a audiência

Direção: James L. Brooks
Título Original: How do you know
Duração: 121 min
Idioma: Inglês
Lançamento: Abr/11

Vi essa bomba em algum vôo naquela telinha de qualidade visual duvidosa e com interrupções constantes para anúncios de vôo. Isso por si só já não ajuda muito a apreciação do filme, mas a falta de opção também não joga a favor e, para completar, Reese Chatinhaspoon é a protagonista. O cenário já estava configurado para um resultado catastrófico e não foi em nada diferente do esperado.

Como você sabe é vendido como uma comédia romântica, ainda que não haja nada, absolutamente nada, de engraçado no filme que justifique a classificação como comédia e as partes românticas pareçam ter sido escritas por uma feminista com crise de meia-idade: a heroína é supostamente independente e auto-suficiente, mas ela passa noventa por cento do filme sendo definida pelo seu relacionamento com os dois protagonistas masculinos que são os únicos que efetivamente têm estórias individuais.

O roteiro envolve uma recém-aposentada jogadora de softball (Whiterspoon) que se envolve com um egocêntrico astro de baseball (Owen Wilson), enquanto paralelamente um executivo apatetado tenta ganhar seu coração (Paul Rudd interpretando Paul Rudd como sempre). Esse último está às voltas com um escândalo na empresa que comanda gerado por seu eticamente-questionável pai (Jack Nicholson em uma de suas piores performances).

Além do enredo principal desprovido de um eixo central que vai do nada a lugar algum, as poucas estórias paralelas sofrem da mesma esquizofrenia, como a da assistente que age como se obviamente estivesse apaixonada pelo patrão em algumas cenas, mas também mostra que obviamente não está em outras - um paradoxo que só um filme de excepcional qualidade como esse é capaz de criar.

Nem sei se esse desastre chegou a aparecer nos cinemas aqui no Brasil ou se foi direto para o DVD, mas nesse segundo caso, se você deparar-se com uma essas três caras (Whiterspoon, Rudd, Wilson) juntas em alguma capa de DVD, passe longe... Isso certamente deve estar listado na definição de tortura da Convenção de Genebra e qualquer namorada que te chantagie emocionalmente para assistí-lo merece um pé-na-bunda sumário e imediato... 

Meu preconceito contra as comédias românticas é aberto e assumido, mas ainda assim tento ser justo quando volta e meia por algum motivo acabo vendo inadvertidamente uma delas. Tenho certeza de que mesmo para que é fã do gênero, assistir Como você sabe são jogar duas horas (porque tão longo?!?) da sua vida no lixo.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Sobrenatural

Os erros superam os acertos

Direção: James Wan
Título original: Insidious
Duração: 103 min
Idioma: Inglês
Lançamento: Abr/2011

Porque é tão difícil conseguir bons filmes de terror hoje em dia? Esgotaram-se as boas idéias? O gosto do público se alterou e com eles os filmes?

Sobrenatural até começa bem e garante pelo menos uns quarenta minutos tensos, com velhas idéias conhecidas, mas ambientação bem executada e uma pitada de novidade sobre um artifício batido para arrematar. Fugimos um pouco do conceito puro e simples da casa assombrada para algo similar, mas que traz algumas possibilidades novas. As cenas são bem executadas, bom uso dos sons, de câmeras, sombras e luz e conforme a tensão vai aumentando.

E então, quando tudo parecia caminhar para um "fantástico", chegamos à meia hora final e o filme descamba para uma comédia tosca, mesmo que essa não tenha sido a intenção dos diretores. Ainda enquanto o filme navegava por águas sombrias e o demônio ou algo similar escondia-se nas sombras do teto (muito boa a idéia), foram introduzidos elementos cômicos totalmente desnecessários e que eram apenas o prenúncio para as vergonhosas cenas que viriam depois.

Sei que pode parecer loucura, mas vale a pena assistir até aproximadamente cinquenta minutos do filme, desligar e inventar o seu próprio desfecho - o que não vale é de maneira alguma aguentar a parada de clichês e figurinos ridículos do terço final dessa palhaçada. 

Espero que Rose Byrne (Damages) e Patrick Wilson (Watchmen, Pecados Íntimos) tenham trocado de agente depois de terem acabado com essa pequena bomba no currículo.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Pânico 4


Nova década, velhas regras

Direção: Wes Craven
Título Original: Scream 4
Duração: 111 min
Idioma: Inglês
Lançamento: Abr/2011

Nenhum fã de Pânico vai ter como reclamar que o quarto filme não foi fiel à franquia - as sacadas metalinguisticas (do filme dentro do filme dentro do filme) e o humor paródico do gênero terror slasher estão lá. Ajuda bastante também o tom da produção estar muito mais próximo do do primeiro filme do do humor escrachado que acabou tomando conta dos outros dois, especialmente o terceiro.

O que não funciona muito bem é o filme de terror em si. Por mais bem-humorado que fosse o original e por mais que a mira de Ghostface fosse ruim, ele ainda conseguia provocar algum medo, por mínimo que fosse. Em Pânico 4, com exceção de uma ou outra, as mortes são o mais previsível possível e no máximo você erra onde Ghostface vai aparecer, na janela ou na porta de trás.

Para um filme que se vendeu com a chamada "Nova década, novas regras" e cujos "narradores" - aqueles personagens que entendem tudo de filmes de terror e ditam as regras para a platéia - alegam que hoje em dia o "inesperado é o novo clichê", o filme não se esforça em trazer qualquer inovação e abraça realmente o clichê do inesperado com um roteiro inteiramente dentro do esperado. Completar todo o checklist de referências a ferramentas modernas como Twitter, Facebook e YouTube também não torna imediatamente o filme moderno.

Pânico 4 ridiculariza o gênero, mas ele mesmo não consegue produzir um bom filme de terror. Certamente é divertido e tem algumas ótimas sacadas, a melhor delas já nas cenas iniciais, mas se conseguisse  juntar tensão e suspense aos bons diálogos e às ótimas referências, talvez suas críticas fossem mais contundentes.

PS.: Tudo que vem após a revelação da identidade do assassino é absolutamente ridículo, das motivações cretinas pelos assassinatos, passando pelas explicações de como o crime foi cometido à la vilão de Scooby-doo e principalmente as últimas ações do "plano"... Mas falo isso com boas intenções: o nível do ridículo é tão fora da escala que não dá para não achar engraçado - parece um episódio filmado de Family Guy  e praticamente só para isso já vale ver o filme.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Rio

O Rio de Janeiro continua lindo...

Direção: Carlos Saldanha
Título original: Rio
Duração: 96 min
Idioma: Inglês
Lançamento: Abr/2010

Rio é bem-humorado, tem algumas boas, ainda que esparsas, sacadas, tem personagens simples, mas relacionáveis e uma boa quantidade de ação. O roteiro é honesto, ou seja, não tenta parecer ser mais complexo do que efetivamente é - você sabe o que esperar dele, sabe de onde virão os conflitos, sabe como ele vai terminar e não há nenhum problema nisso.

Seria, enfim, apenas um bom filme para gastar o tempo, especialmente se há crianças em casa, se fosse uma animação qualquer. Só que ele se passa no Rio de Janeiro e a cidade é tão bem retratada, com tanto conhecimento, com tanta afeição, que ele se torna obrigatório para qualquer carioca e altamente recomendável para qualquer brasileiro.

Por outro lado, ainda que o Rio nunca tenha sido exibido de forma tão atraente, ele também nunca esteve tão reduzido ao trinômio carnaval-samba-futebol (ainda que seja dentro desses temas que surjam as melhores piadas do filme). Mesmo sem se furtar de subir a favela ou de mostrar os ataques a turistas (ainda que perpetrado inusitadamente por animais), ele certamente deve ajudar a atrair uma boa quantidade de visitantes para a cidade – vindos não só do resto do Brasil, mas do mundo todo. 

Blu e Jade podem não ser os personagens mais interessantes que um filme de animação já teve, mas isso não importa muito já que eles não são verdadeiramente os protagonistas do filme. A verdadeira protagonista, o Rio, é e continua sendo certamente maravilhosa e motivo mais que suficiente para dar um pulo ao cinema.