sexta-feira, 4 de novembro de 2011

A pele que habito

A crítica que escrevo 


Direção: Pedro Almodóvar
Título original: La piel que habito
Duração: 120 min
Idioma: Espanhol
Lançamento: Nov/2011

Todos os filmes de Almodóvar parecem iguais, todos parecem ter sido feitos há pelo menos uns vinte anos, todos envolvem bizarrices sexuais e todos são interessantes mesmo sendo exatamente variações do mesmo tema milimetricamente calculadas para não parecerem variações (mas parecem). A pele que habito está longe de fugir desse padrão, mas ao menos dá uma segurada na mão no tradicional exagero cromático do diretor e dá uma folga para Penelope Cruz (apesar de contar com os veteranos Antonio Banderas e Marisa Paredes, também prata da casa).

Como sempre, dei uma olhada no que andou falando a "concorrência" e a maioria dos críticos entram na onda dos simbolismos, do existencialismo-filosófico, das releituras clássicas, do retorno às raízes e outras avaliações mais acadêmicas. Incrivelmente o filme consegue ser elástico o suficiente para dar espaço para toda essa gama de interpretações, mas ao mesmo tempo fica a impressão de que justamente por isso nunca alcança a plenitude que justifique perfeitamente nenhuma delas.

Como não segue o padrão econômico e eficiente do norte-americano de fazer cinema (o qual o brasileiro segue quase á risca), a narrativa do filme parece muitas vezes "quebrada", com personagens aparecendo e desaparecendo do nada, motivações obscuras ou incoerentes e alguns exageros que precisam ser tomados como "licença poética" para que você possa efetivamente apreciar o filme sem se sentir ofendido: informações importantes que em filmes mais tradicionais seriam consideradas reviravoltas são, ao final, irrelevantes para o roteiro - como bem pontuou Roger Ebert, é apenas Almodóvar engrossando o caldo.

A maior parte do filme vai te manter no estado "onde diabos esse cara quer chegar" e conforme ele vai revelando suas cartas, vamos tentando entender que "tipo" de filme estamos vendo afinal de contas (para os que não leram críticas demasiadamente esclarecedoras na internet obviamente). Infelizmente o destino parece à primeira vista não tão interessante quanto a jornada, a não ser que nós façamos uma leitura de que aquela desorientação e o vazio que o fechamento anti-climático nos deixou devesse espelhar os sentimentos da protagonista. Essa interpretação eu deixo para os meus colegas mais acadêmicos, pois na crítica que escrevo, A pele que habito é apenas um filme intrigante que se perdeu rumo à linha de chegada.

P.S. - A nota dada pode parecer um pouco acima do que o texto faz parecer que o filme mereça. Almodóvar, mesmo quando não está em sua melhor forma (Tudo sobre minha mãe, Volver, Fale com ela etc.), mais do que vale o ingresso. Vide Abraços Partidos.