terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

The Big Short - Michael Lewis

A arte de atirar pedras em cachorro morto 


The Big Short segue a história de quatro personagens: três gerentes de pequenos fundos de investimento e um broker do Deutsche Bank. Nenhum deles figurou entre os vários nomes circulando nos jornais durante a crise dos últimos três anos, mas os quatro de uma maneira ou de outra previram o que ia acontecer com certa antecedência e foram capazes de apostar contra o mercado de securitização de hipotecas subprime, fazendo muito dinheiro enquanto o mundo entrava em desespero. 

Lewis escolheu personagens bastante peculiares e ele consegue pintá-los ainda com mais cores, a ponto de dar a eles mais humanidade do que as suas versões da vida real devem efetivamente transparecer. Essas personas, aliados a uma prosa inflamada, rápida e fluida, fazem de The Big Short um livro agradável e relativamente fácil, mesmo versando sobre um assunto denso (apesar de afetar a vida de praticamente todas as pessoas) e supostamente complicado. 

Não há porque esperar nesse livro uma visão imparcial das motivações, causas e efeitos que levaram à derrocada financeira norte-americana de 2008, principalmente porque os personagens estavam todos em apenas um dos lados da complexa equação. Dessa maneira, agências de avaliação de risco de crédito, bancos de investimento, seguradoras como AIG e outras figuras da indústria financeira, todos levam pauladas de todas as direções possíveis e os insultos vão da mera incompetência, passando pela estupidez até a canalhice pura. 

Wall Street e suas mágicas financeiras são pouco a pouco desmistificadas e simplificadas ao ponto de você não conseguir ver todo o mercado de securitização como algom mais que um bando de idiotas apostando somas gigantescas em um grande jogo de roleta (com o dinheiro dos outros, obviamente). Em nenhum momento, porém,  o discurso descamba para a falta de bom senso e extremismo que geralmente permeiam a inflamada oratória esquerdista contra o capitalismo e lembra muito mais um "idealista" que acredita na indústria e descobriu seus princípios traídos por aqueles que a compõe. Mais uma vez: imparcialidade e auto-crítica não são exatamente grandes qualidades do livro. 

Enfim, para aqueles para quem o mundo das finanças é tão alienígena quanto às onze ou não sei mais quantas dimensões da realidade quântica, o livro de Lewis pode parecer intrincado e convoluto demais e passará longe de ser considerado uma leitura agradável. Para aquele nicho de leitores, interessados em compreender de maneira mais ampla como o mundo chegou à complicada crise dos últimos anos, The Big Short, generalizações e caricaturas à parte, certamente é uma leitura intrigante e recompensadora. 

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