sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

XXY


Isenção e ambiguidade

Direção: Lucía Puenzo
Título Original: XXY
Duração: 86 min
Idioma: Espanhol
Lançamento: Fev/2008

A estória de XXY sai do nada e chega a lugar algum, não há realmente um conflito crescente, um clímax e uma resolução - mas isso não é necessariamente um demérito. 

Com uma estrutura que espelha as intenções da autora de com o máximo de isenção pintar uma família e principamente da filha adolescente com o máximo de cores possíveis sem uma narrativa mais densa que pudesse criar dilemas para o expectador e de alguma maneira influenciar sua opinião. XXY apenas "é" e quer apenas testar sua reação à sua existência.

Alex, a adolescente protagonista, é peculiar: além de todas as transformações e descobertas sexuais que qualquer um passa nessa idade, ela/ele sofre com a (suposta) necessidade de ter que escolher a qual gênero pertence: masculino ou feminino. Hermafrodta que não foi operada ainda bebê como é de costume, ela/ele convive com os dois sexos e todos hormônios conflitantes que os caracterizam. A chegada de um cirurgião e sua família para visitá-los só faz seus medos, inseguranças e indecisões aumentarem.

A ótima performance de Inés Efron leva a ambiguidade física e óbvia de Alex para patamares mais interessantes e realmente não é difícil envolver-se e perceber nela/nele algo ímpar - não pela sua condição física em si, mas sim por todas as nuances de personalidade que essa diferenciação imprimiu nela/nele. Sem muito alarde, um filme diferente e atrativo que provê algo no que pensar e discutir. 

Estranhamente, contudo, o que mais me chamou a atenção mesmo foi a grosseria com que os personagens se tratavam e a relativa naturalidade com que eles pareciam aceitá-la. Como sempre, difícil saber se foi uma escolha particular da direção/produção/roteiro ou se efetivamente é de se esperar atitudes como essas dos argentinos de maneira geral como se fosse uma distinção cultural... Fica a dúvida.

Em tempo: Ricardo Darín, o ator que está em aparentemente todos os filmes argentinos, (surpresa!) também está nesse com a boa atuação de costume.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Sweeney Todd - O barbeiro demoníaco da rua Fleet

Sombria cantoria


Direção: Tim Burton

Título original: Sweeney Todd - The demon barber of Fleet street

Duração: 116 min
Idioma: Inglês
Lançamento: Fev/2008

Sombria e amedrontadora, a tomada aérea inicial de uma enevoada Londres de tempos idos já proporciona a ambientação morbidamente perfeita esperada de um filme de Tim Burton. A câmera desce para um antigo navio, foca em um personagem e então... a cantoria começa! E, infelizmente, não pára mais. Sem deixar espaço para muitas falas, as intermináveis e encadeadas canções acabam eclipsando todas as outras qualidades do filme. Johnny Depp, Helena Bonham Carter e todos os outros atores não desafinam e parecem divertir-se em seus personagens exageradamente bizarros ou cruéis, mas a história, que está longe de ser ruim, perde muito ao ser cantada ao invés de simplesmente "dialogada". Muito sangue jorra da cadeira do demoníaco barbeiro da rua Fleet, e o roteiro proporciona alguns bom momentos de tensão e suspense em uma trama propositalmente clássica que segue os padrões pré-estabelecidos das tragédias, mas se Sweeney Todd tem o DNA Tim Burton no visual, no áudio é o de um musical sem grandes atrativos. A não ser que você seja um grande fã do estilo do diretor, pode deixar Sweeney Todd passar direto.

Cloverfield - Monstro

O monstro de Blair

Direção: Matt Reves
Título Original: Cloverfield
Duração: 90 min
Idioma: Inglês
Lançamento: fev/08

Godzilla com uma câmera na mão - isso é tudo o que é necessário saber sobre Cloverfield - Monstro. É um filme na linha de A bruxa de Blair e Diário dos mortos só que ao invés de fantasmas e zumbis, temos um monstro gigante. É cinema-catástrofe na versão "primeira pessoa" - A grande diferença entre esse e os outros dois, é que é temos muito menos suspense, mas muito mais explosões, prédios desabando e outras catástrofes hiperbólicas.

O mundo está acabando, vamos todos morrer... então pegue a câmera e comece a rodar! Obviamente o grande problema de Cloverfield é o mesmo que, talvez até em menor quantidade, acometia A bruxa de Blair: por que diabos alguém estaria segurando a câmera ligada mesmo em uma situação de vida e morte? Porém, na maior parte do filme, o roteiro consegue te convencer que, se não provável, pelo menos não é de todo impossível.

A parte inicial em que você aprende sobre os personagens demora um pouco mais do que o necessário, principalmente porque os personagens não são particularmente interessantes - um deles é simplesmente irritante demais e parte da graça do filme é ficar esperando pelo momento em que ele seja esmagado, ou destroçado em uma explosão. Aliás, é provavelmente isso é que impede o filme de ser muito mais grandioso - a total falta de profunidade dos personagens.

O filme acerta em alguns pontos essenciais, especialmente para filmes de monstros: não explique muito e mostre o mínimo possível de seu monstro (vide sucessos como Tubarão, Abismo Profundo, Alien etc.) e consegue (excluindo-se os primeiros vinte a trinta minutos), manter o nível de tensão no máximo. Não é cinema-cabeça (apesar de algumas infelizes referências gráficas ao terror do 11 de setembro) e cumpre decentemente o objetivo de entretenimento sem muito cérebro e com um mínimo de criatividade.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Thor v3 #01-06

Retorno de proporções divinas

Editora: Marvel Comics
Publicação: Set/2007 a Fev/2008
Roteiro: J.M.Straczynski
Arte: Olivier Coipel

Depois de algum tempo afastado do universo Marvel após o cataclísmico evento que finalizou a versão anterior de sua série, o Deus do Trovão retorna em grande estilo com a arte espetacular de Oliver Coipel e um ótimo enredo de J. Michael Straczynski.

Longe de ser forçada, a "ressurreição" de Thor abre uma discussão sobre o ser divino e sua relação com o ser humano e sua jornada para "despertar" os deuses nos corações dos homens rende ótimos momentos.

A escolha pela localização de Asgard garante um viés mais realista e prosaico para estória, permitindo alternar os momentos de grandiosidade divina com outras de pragmatismo e pé-no-chão com os personagens de uma cidadezinha no coração da América.

O ritmo também é muito bem construído e cada edição é uma estória fechada em si ao mesmo tempo que avança o enredo principal. Cada capítulo dá um passo a frente: o retorno de Thor, a recriação de Asgard, o despertar de Heimdall, depois dos três guerreiros etc.

Um grande retorno para um grande herói!