sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Dúvida

Duelo de Titãs

Direção:John Patrick Shanley
Título Original: Doubt
Duração: 104 min 
Idioma: Inglês 
Lançamento: Fev/09 

Não acontece muita coisa em Dúvida, ou ao menos nada que choque, surpreenda, ou que não tenha sido visto antes em outros filmes ou nos noticiários. O que Dúvida tem, e de sobra, para não só prender a atenção, mas também fazer com que queiramos mais de seus personagens, é talento, muito talento. Seus quatro protagonistas concorreram ao Oscar: Meryl Streep, Philip Seymour Hofman, Amy Adams e Viola Davis e seu diretor ganhou notoriedade (e a nominação) com um roteiro que já havia ganhado diversos prêmios na sua montagem teatral. 

Streep já é há muito tempo hors concours - difícil citar algo que ela tenha feito que não seja digno de aplausos - e em Dúvida ela tem uma de suas melhores performances. Restrita, contida e severa: sua personagem é pura disciplina, quase desprovida de sentimentos e tão amedrontadora quanto uma freira poderia ser. Seu nêmesis, o bispo interpretado por Hofman, é expansivo, agregador e charmosamente perigoso e como sempre o ator não falha. Em um esquema "A Favorita", a razão e a moral, o "lado do bem", balança entre um e outro com confrontos diretors de altíssima carga emocional - daqueles de segurar mais forte no braço da poltrona. 

Fazendo o papel de expectador quicando entre um lado e outro está a ótima Amy Adams, que apesar da mesma aparente ingenuidade de sua princesa no divertido e inofensivo Encantada, sua personagem tem mais nuances e acaba sendo uma das mais inesperadas das surpresas no meio desse duelo de titãs. Ela só fica atrás da rápida (praticamente apenas uma cena), mas intensa e poderosa interpretação de Viola Davis, como a mãe de um dos meninos supostamente sofrendo abusos sexuais do bispo - com muito poucas falas e em muito pouco tempo ela nos mostra a força, a resignação, o sofrimento, a determinação e muito mais sentimentos conflituosos de uma mãe em desespero.

Para fechar a resenha, vale dizer que, ainda que um filme fantástico, Dúvida é para quem quer ir ao teatro e não ao cinema. 

É interpretação pura em cima de um roteiro focado em silêncios, olhares e pequenos gestos. Não é um filme para ser assistido sem atenção e não é somente entretenimento. 

É talento e arte em sua melhor forma.