sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Procura-se um amigo para o fim do mundo

Hipsters infelizes e solitários


Direção: Lorene Scafaria
Título original: Seeking a friend for the end of the world
Duração: 101 min
Idioma: Inglês
Lançamento: Ago/2012

Não pretendo entrar na questão de porque ultimamente há tantos filmes, séries e livros sobre o fim do mundo (ou sobre o que acontece depois dele). Não me interessa se a causa é uma profecia maia, recessão econômica, o pós-existencialismo moderno na condição substrata do ser ou qualquer baboseira do tipo. O que interessa é que meteoros, epidemias, zumbis e até mesmo deuses sedentos por sangue (pescou a referência?) estão soltos por aí para acabar com a humanidade.

A grande maioria dessas obras foca no evento ou mecanismo em si, nas consequências dele, no que é necessário fazer para continuar sobrevivendo ou como aproveitar melhor os últimos momentos. Poucos se preocupam com as pessoas em si e em desenvolver seus personagens. Esse segundo grupo concentra o que há de melhor no gênero (vide The Walking Dead), mas só quando as pessoas que aparecem nele minimamente se parecem com pessoas que você conheça e é aí que começa o problema do filme dessa crítica.

Procura-se um amigo para o fim do mundo é um sub-sub-gênero raríssimo, uma comédia romântica em um filme sobre o fim do mundo com estrutura de road movie, mescla romance e fofurices em geral com alguns momentos comédia e outros de depressão profunda. A intenção já de partida e na própria estrutura e natureza do filme é não seguir pelo caminho óbvio e nesse sentido o filme ganha alguns tapinhas nas costas. Essa é a armadilha: tudo que ele quer é esse tapinha nas costas e a sua aprovação.

Keira Knightley interpreta o "tipo" de mocinha dos sonhos da hora, que se veste como se tivesse pegado algo de dentro do cesto de roupas sujas, é meio amalucada e meio neurótica, mas ultra-fofa (você já viu Natalie Portman, Kirsten Dunst, Zooey Deschanel e muitos outras atrizes icônicas desse tipo de papel, inclusive a própria Keira) e Steve Carell interpreta mais uma vez um personagem depressivo (para mostrar que nem só de comédia vive um comediante), mas sem a profundidade do Frank de Pequena Miss Sunshine.

Consigo acreditar que algumas pessoas teriam e tenham reações ilógicas à proximidade do fim de suas vidas, mas o filme só nos apresenta esse tipo de pessoa. Quando estamos falando dos personagens que aparecem ao longo do caminho, tudo bem, porque eles estão ali por um momento e vão ser mesmo por definição unidimensionais. No entanto, quando a âncora do filme, ou seja, seus protagonistas também seguem essa linha, fica difícil levar a sério qualquer parte dele (e o filme visivelmente se leva a sério).

Procura-se um amigo para o fim do mundo é o típico produto da tribo hipster: quer desesperadamente que você acredite que ele é cool simplesmente porque é indiferente, é minimalista, é nostálgico, é intimista e nada contra a corrente. Está tão preocupado com sua opinião sobre o que ele quer ser do que em ser alguma coisa efetivamente. Há alguns anos eu talvez tivesse achado esse filme sensacional, mas hoje ele não é um filme diferente, só quer que você acredite que ele seja.


P.S. - Talvez eu tenha sido muito influenciado nessa crítica por ter descoberto o blog Unhappy Hipsters que ambiguamente materializa e perpetua uma tendência que não é de agora (restrito à arquitetura), mas que está se tornando incômoda. Há poucos dias, talvez o filme tivesse levado um três ou até mesmo, em um momento de bem com a vida, um quatro, mas agora que a escotilha foi aberta, não há mais como ser fechada.