sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Wall Street: O dinheiro nunca dorme

Prazo expirado


Direção: Oliver Stone
Título original: Wall Street: Money never sleeps
Duração: 133 min
Idioma: Inglês
Lançamento: Set/2010

Quando Wall Street: O dinheiro nunca dorme aportou nos cinemas do Brasil, assisti à versão original em DVD para evitar ficar perdido caso a sequência tivesse muita ligação com ela. Um ano depois, fui finalmente assistir a versão 2.0 do retrato da ganância do mundo financeiro e percebi que a vantagem de ter visto o primeiro era simplesmente a de perceber o quanto o segundo ficou aquém dele. As ligações entre os dois são explicadas detalhadamente nesse segundo.

No primeiro Wall Street, o combo de boas atuações de Charlie Sheen+Michael Douglas, totalmente confortáveis em seus papéis, e um roteiro que, apesar de algumas simplificações do cinema oitentista, impressionava por trazer para os holofotes e caracterizar com fidelidade e agradável acidez uma subcultura da relativamente ignorada da época, os yuppies. A sequência do século 21 lembra muito o primeiro, mas muito menos ácida, mais condescendente e em versão contemporânea mais "emo-colorida".

O filme incomoda um pouco pelo didatismo exagerado, o excesso de cenas e artifícios para relembrar de detalhes do filme que você viu há no máximo uma hora e diálogos que parecem ter sido redigidos para adolescentes e não o esperado público-alvo do filme. Porém o que realmente mata O dinheiro nunca dorme são as cenas finais, que só parecem estar ali para confirmar de forma constrangedora que Oliver Stone perdeu a mão há muito tempo em algum lugar no começo dos anos noventa: pieguice pura digna da mais boba das comédias românticas e incompatível com o filme que eu esperava ver como sequência do primeiro Wall Street. 

Nem tudo é perdido, no entanto. Michael Douglas continua "sendo" Gecko, algo que vai além da simples atuação, e alguns inspirados discursos e "lições de vida" do personagem deixam transparecer lampejos de genialidade e boa escrita que não voltam mais. Shia LaBeouf também surge como um bom substituto para Sheen e seu personagem até consegue assimilar o espírito dos jovens financistas atuais, ainda dirigidos pelo dinheiro, mas com interesses mais amplos que o simples desejo de consumir.

Descontados os minutos finais, teria sido uma boa "sessão-da-tarde" com o diferencial de também ser suficientemente esclarecedor em relação da crise financeira recente. Contudo não não dá para perdoar as escolhas de Stone, especialmente no final, e o filme cai na vala comum dos "dispensáveis". 

Melhor fosse ter sido lembrado só pela primeira versão mesmo.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Resident Evil IV - Recomeço

Só para fãs


Direção: Paul W.S. Anderson
Título original: Resident Evil IV - Afterlife
Duração: 97 min
Idioma: Inglês
Lançamento: Set/2010

Milla Jojovich continua fazendo poses elaboradíssimas enquanto atira com armas maiores que ela mesma e explode cabeças de zumbis em trajes mínimos. Esse é um bom resumo de Resident Evil IV: Recomeço, mais um da série de filmes baseadas em uma das melhores franquias de jogos de video-game já criada. Para os fãs do game, essa nova empreitada conta com vários personagens muito conhecidos como os irmãos Redfield (Chris e Claire), Wesker (assustadoramente similar à sua versão pixelizada para o Playstation 3) e o "Carrasco" do início da trama na África (Resident Evil V). Esse último aparece em uma das cenas mais despropositadas e ao mesmo tempo mais "cool" dos últimos tempos - que também personifica o tom e intenção do filme: o personagem surge sem explicações, não tem qualquer relevância para a trama e inexplicavelmente não é mencionado mais pelo resto da história, só que é justamente aquele elemento e aquela cena para quem o coração nerd bate mais forte e em que é difícil não deixar escapar um "Irado!". Resident Evil IV é raso, com personagens estereotipados, trama clichê e tudo o mais que caracteriza um filme ruim, mas é ao mesmo tempo visualmente estiloso e com uma versão 3D, para quem pôde ver no cinema, de altíssima qualidade em que a tecnologia é muito bem-explorada. Se você é fã da série de games ou gostou dos outros episódios no cinema, Resident Evil IV é um passatempo divertido e esquecível - exatamente o que se espera dele.

domingo, 12 de setembro de 2010

True Blood: Terceira Temporada


Se não fosse HBO...

No estilo crítica-que-tarda-mas-não-falha, aqui estou, por dever de "ofício", fazendo o fechamento da terceira temporada de True Blood mesmo que a quarta já siga a meio caminho da conclusão. Por enquanto, só tive o (des)prazer de checar o primeiro episódio da nova temporada e ele não fez nada para dirimir minha sensação de que o projeto de Alan Ball começou seu declínio já no final da primeira temporada e não achou mais o caminho de volta.

Isso não quer dizer que não há esperança alguma para a série, muito pelo contrário. Estamos falando de HBO, então podemos contar com pelo menos um mínimo de qualidade visual, erotismo e bom humor, o que garante em qualque caso pelo menos um programa mediano. Estabilizando-se nesse patamar, é possível continuar assistindo na inércia por muitas outras temporadas. O único risco é a tendência decadente e cada nova temporada continuar a ser pior que a anterior. 

O que aconteceu afinal? Parece-me basicamente que os diálogos carregados de referências e sacadas inteligentes da primeira temporada deram lugar em algum momento para outros que, traduzidos para o português seriam dignos da obra-prima "Os mutantes/Caminhos do coração" da Record. Os próprios atores, nessa terceira temporada, não conseguiam mais atuar com a cara limpa algumas falas toscas e em alguns momentos foram obrigados a parodiar o próprio personagem, exagerando alguns traços exageradamente deixando cenas supostamente dramáticas ou tensas a poucos passos da comédia involuntária: Bill e Sookie foram os que mais protagonizaram esse tipo de situação.

Além disso, por mais que houvesse algum esforço por parte dos roteiristas de tentar dar credibilidade ao bando, os lobisomens simplesmente não disseram a que vieram. Se já não fosse a inevitável comparação com um "Eclipse" hardcore, eles não acrescentam nada a um universo que já contava com transmorfos (Sam e cia.). A artificial ligação que se quis criar entre lobisomens e vampiros, a qual obviamente não é uma exclusividade de True Blood, poderia ter funcionado na série se os roteiristas tivessem se empenhado em criar uma mitologia própria como fizeram para a bacante da temporada anterior.  E eles foram só mais um elemento em uma temporada que abriu a porteira para vários outros seres especiais entrarem.

Como comentei recentemente ao avaliar Harry Potter, Rowling tinha pelo menos um grande talento: mesmo juntando dezenas de idéias plagiadas (ou "referência") diferentes, ela consegue colocá-las em um enredo único e coerente. True Blood abriu a sua sacolinha mágica e enfiou vampiros, lobisomens, transmorfos, bacantes, bruxas e fadas em um só universo (um limitado universo chamado Bon Temps) e parece que esqueceu de ou não se importou em alinhavá-los de uma forma mais coesa. 

Essa terceira temporada porém, só não naufragou porque o rei louco Russelll e o psicopata Franklin em suas relativamente poucas aparições (especialmente o segundo) garantiram o interesse. Foi bom ver que o viés político da relação humanos-vampiros deu sinais de vida com o (consideravelmente exagerado) assassinato perpetrado em cadeia nacional. True Blood continua sendo um programa de alta qualidade, mas está bem longe do que poderia ser, vivendo das glórias do passado e abusando da combinação drogas, sexo e violência para esconder a falta de roteiro. 

Vamos ver quais vão ser as armas dessa quarta temporada para manter o interesse sem se perder nas dezenas de narrativas abertas e na sua cada vez mais numerosa galeria de seres fantásticos.

Hung


Muito sexo, pouca emoção

Lançado no auge da crise financeira, Hung até tinha uma premissa pertinente e com potencial: professor de colégio, divorciado, com dois filhos e coberto de dívidas encontra uma única saída para resolver seus problemas: colocar seus... hã... dotes físicos à disposição de mulheres carentes por... hã... companhia. A premissa, no entanto, apesar de garantir algumas piadas prontas que seriam o suficiente para segurar um filme de uma hora e meia ou duas, não conseguiu gerar material para uma boa série...

Os primeiros episódios da primeira temporada trazem algumas sacada legais e Jane Adams consegue garantir no mínimo alguns sorrisos com sua cafetina-por-acidente e riponga Tanya. E a ela se junta mais tarde, como melhores representantes da vertente cômica da série, Rebecca Creskoff com a devoradora-de-homens e life coach Lenore. Thomas Jane, o bem-dotado protagonista, faz par com uma adequada Anne Heche, mas seus personagens não criam química suficiente para que os espectadores realmente se importem com o relacionamento dos dois.

É na segunda temporada que fica mais evidente a fraqueza da premissa e ela segue sem uma trama que chame a atenção e sem encontrar um caminho certo durante os dez episódios. Algumas estórias paralelas, como a da vizinha turca/síria/libanesa ou qualquer coisa parecida, ajudam a dar um pouco mais de substância (ou enrolar), mas a maioria delas nunca chega a lugar algum.

Hung até tem um ou outro momento mais inspirado, a produção é bem feita (HBO) e os atores são competentes, porém, nunca chega a ser divertida ou dramática o suficiente para se justificar e nunca consegue se diferenciar o suficiente para garantir seu lugar entre as melhores séries. Só indico para quem realmente já esgotou as opções de primeiro escalão.

Para terminar, como de costume, segue a abertura que, assim como a própria série, apesar de bem realizada, está longe de ser memorável como a de outras mais top (Game of Thrones, À sete palmos etc.):