sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Estréia - The Event

Burocracia e muita preguiça

The Event estreou em meados de setembro pela NBC com muito alarde e muito marketing, então inevitavelmente, grandes expectativas foram criadas (parece que ninguém aprendeu a lição que a ABC tomou com Flashforward o ano passado). Infelizmente, a série nos presenteou um roteiro preguiçoso e extremamente burocrático que não consegue nem de perto alcançar o hype criado.

Começando com um esquema narrativo bastante equivocado, com idas e voltas temporais (sem viagens no tempo dessa vez, ainda bem), mas no qual o passado explica pouco ou nada do presente e serve somente, na maioria das vezes para contextualizar as ações (de maneira excruciantemente didática) dos personagens no momento atual.

Para piorar, a direção segue uma cartilha pisada e repisada: se você acha que a próxima cena irá mostrar um evento no passado daquele personagem que está sendo focado no final da cena, você não vai se decepcionar. Se você acha que a estória de um personagem acabou de atingir seu ápice e que a série vai voltar ao que está acontecendo em uma outra história paralela, mais uma vez você está certo.

Os diálogos, por sua vez, começaram padronizados, mas efetivos, e aos poucos, ao longo dos episódios, foram ficando cada vez mais "literários": o diretor parece esquecer que as imagens já naturalmente dizem mais do que mil palavras e resolve colocar mais algumas para garantir que a cena seja explicada também através da narração dos personagens.

Contudo, a série é também muito "profissional" e boa parte do elenco consegue convencer mesmo quando obrigados a proferir as frase mais manjadas (e algumas vezes constrangedoras) desse tipo de atração (ficção científica, conspirações e muita ação). Outro ponto positivo é a capacidade do show de manter um ritmo acelerado ao longo de todos episódios, mesmo que isso signifique cair na redundância algumas vezes e na inverossimilhança na maior parte das vezes.

Vale à pena também dar crédito também aos roteiristas por "lições aprendidas": depois de Lost segurar milhões de pessoas por seis anos, para não responder nem metade das respostas que abriu e dividir opiniões quanto ao seu final, The Event não espera mais que três episódios para solucionar situações e solucionar mistérios (ainda que eles não fossem muito interessantes para começo de conversa).


The Event não chega a ofender, mas também não vale, sinceramente, o tempo investido. Admitidamente, há algumas boas idéias com potencial (usualmente desperdiçado) e um bom par de surpresas (geralmente no último minuto dos episódios) ao longo do caminho. 

Sinto-me até mal em escrever isso: mas acho que, noves fora, Persons Unknown, por mais doloroso que fosse em alguns (ou muitos?) momentos, pelo menos tinha uma premissa que realmente prendia a atenção e que fazia você flagelar-se com os diálogos estúpidos para poder saber para onde aquela estória estava indo. Em The Event, você já sabe para onde ela vai, resta saber apenas se você quer vê-la confirmada na tela (vale lembrar: o show geralmente não vai te decepcionar em suas expectativas...).

Ainda faltam uns três meses para decidir se eu quero saber SPOILER ALERT o que o sinal enviado vai causar ou as implicações da origem mestiça de Leila. Por enquanto, meu sentimento é apenas um: quem se importa?

De qualquer maneira, segue o trailer para quem já não pegou alguma cena zapeando pela tv:

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Enterrado vivo


Muito com muito pouco

Direção: Rodrigo Cortés
Título original: Buried
Duração: 95 min
Idioma: Inglês
Lançamento: Dez/2010

Apesar de ser um filme relativamente curto, a limitada variedade de tomadas, cenário e personagens criam um clima angustiante e claustrofóbico em que minutos demoram muito a passar e te deixam oscilando entre a tensão e a irritação. Enterrado Vivo é certamente um projeto diferente, ambicioso em seu minimalismo e que vale a pena ser conferido simplesmente para checar como se pode contar uma história com tão pouca margem de manobra. Ryan Reynolds ainda vai ter que comer muito feijão com arroz para ser mais que um abdômen sarado, mas pelo menos aqui ele dá um passo na direção certa e se não merece um Oscar, não atrapalha o desenvolvimento da história. Por fim, o roteiro tem um viés político um pouco mais carregado do que me apetece, mas funciona bem e as críticas sociais são tristemente verossímeis. 

Um cara enterrado vivo com um celular e pouquíssimas horas para se salvar - o filme é isso e somente isso, mas isso é o suficiente.

domingo, 5 de dezembro de 2010

The Walking Dead - Primeira Temporada

Lento, agonizante, brilhante

Enquanto acompanhava os primeiros episódios de The Walking Dead, não conseguia parar de me questionar: porque tanto confete em cima dessa série? O que fez ela ser a sensação entre as estréias de outono nos Estados Unidos? O que a fez ser aclamada mundialmente por críticos das mais diversas nacionalidades e tendências? 


A resposta mais óbvia e simples, após ter assistido todos os seis episódios da primeira temporada, é de que a concorrência para ela nessa última temporada era quase inexistente e qualquer programa com um pouco mais de refinamento se destacaria também. Isso, contudo, seria muito simplista e realmente não reconheceria alguns dos inegáveis méritos do seriado. 




Outra eventual maneira de responder, um pouco menos cáustica, mas um tanto mais cínica, seria apontar o fato de The Walking Dead ser um produto de "marca", que já vem com carimbo de qualidade e portanto pouco exposta a ataques mais óbvios. Isso quer dizer que se você for criticar, é melhor se esforçar e pensar bem a respeito, porque provavelmente sua crítica será ela mesma alvo de críticas. 


A série é produzida pela AMC, canal relativamente novo que abriga outros programas pelos quais os críticos já caíram de amores como Breaking Bad e Mad Men - não vi nenhum dos dois ainda, mas só ouvi falar bem. Além disso, The Walking Dead é  dirigido por Frank Darabont, o oscarizado diretor que já le levou às telas À espera de um milagre e Um sonho de liberdade, filmes que dificilmente encontram um detrator mais entusiasmado. Fora isso, a obra original em quadrinhos já alinhavou uma base de fás (nerds como eu) de vulto considerável. Havia então um quê de "não vi, mas já gostei" antes da estréia e pode ser que ninguém quisesse dar o braço a torcer depois que a realidade bateu à porta. 

De qualquer maneira, essas razões ainda que verdadeiras não seriam satisfatórias, pois ignorados dois grandes problemas estruturais, ritmo e estilo, é preciso aceitar que, no mínimo, é um trabalho extremamente competente e que há uma equipe por trás se esforçando para entregar algo de qualidade. Pesa muito contra que os problemas mencionados permeiam cada minuto, cada fala, cada cena da série, então dificilmente podem simplesmente ser ignorados: ou você está com eles, ou contra eles. 

Ritmo - Se estivéssemos falando de The Event ou Flashforward (veja que cito duas séries fracas como comparação), o que The Walking Dead apresentou em aproximadamente cinco horas, não cobriria um episódio sequer dessas duas séries. Muita ação acontece em The Walking Dead, o problema é que demora muita cada uma delas começar e até lá você pode já ter dormido umas duas vezes e mais um pouco. Essa escolha supostamente permite que os personagens sejam melhor desenvolvidos e que você se identifique mais com eles e se importe quando as inevitáveis baixas no grupo acontecerem. Para a geração MTV ou a mais recente YouTube, manter a atenção em um vídeo em que o intervalo entre mudanças de plano, cortes e eventos é contado em minutos e não em segundos é realmente angustiante. 

Estilo - Não há muito como fugir do caminho trilhado e retrilhado das realidades pós-apocalípticas e The Walking Dead entrega aquilo que todos já esperam - a política interna do grupo, o conflito gerado pelo estresse constante, a escolha entre a sobrevivência individual e a morte grupal, a inevitável necessidade de se "matar" um ente querido (depois de ter se recusado a acreditar que ele se tornaria um zumbi contra toda e qualquer expectativa), etc. Esse elemento certamente joga contra a série e o roteiro não tenta inovar em praticamente nenhum momento. Porém, a verdade é que mesmo com essa "mesmice", nós inevitavelmente continuamos a ser tragados sempre e novamente para essas realidades em filmes, jogos, livros e quadrinhos.  Se é assim, porque não se embrenhar em uma realidade que seja muito bem executada (ainda que lentamente) como a de The Walking Dead? 

O grande trunfo da série é fazer você sentir que existe uma boa equipe que já discutiu todos os buracos da trama antes que o episódio seja apresentado a você. Geralmente quando você se pergunta porque afinal de contas um determinado personagem fez algo e não a alternativa mais óbvia, o próprio se encarrega de te explicar na próxima fala ou eles podem ser mais sutis - no último episódio, por exemplo, só com o desenrolar dos eventos fica claro (ainda que subentendido) porque um determinado indivíduo, contra seu próprio instinto de sobrevivência, dividiu com outros os mantimentos disponíveis, solicitando apenas que fossem parcimoniosos com o combustível. 

The Walking Dead, como outros bons exemplares da categoria, acerta quando mantém o foco (e essa é a força também da versão original nos quadrinhos) não em como os personagens sobrevivem e sim no porque. Afinal, o que nos levaria como espécie ou como indíviduos,  dada condições extremas e pouca ou nenhuma esperança à vista, continuar lutando que não o próprio instinto irracional de sobrevivência? Os nossos relacionamento e a nossa ligação com outras pessoas pode ser tão ou mais efetivo para a nossa perpetuação que a nossa própria necessidade biológica de continuar vivos? Nisso The Walking Dead se aproxima muito do ótimo, mas também lento (além de prolixo e confuso), The Road de Cormac McCarthy. 


Pandemia, terrorismo descentralizado, sistemas colapsados e a morte definitiva da esperança: nossos maiores medos materializados na tela. 
Personagens francos e competentemente escritos e interpretados. 
Emoção genuína em meio a um cenário batido e sem muitas novidades. 

Ajuste a paciência para os intermináveis planos desprovidos de ação e curta uma das boas novidades da TV. 

Bônus: a rápida e bela (ainda que não muito original) abertura: 




sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Megamente

Dreamworks padrão


Direção: Tom McGrath
Título original: Megamind
Duração: 95 min
Idioma: Inglês
Lançamento: Dez/2010

Se por nada mais, Megamente, vale só pelos poucos minutos em que o Metro Man de Brad Pitt se apresenta para a cidade. Definitivamente hilário. O resto é Dreamworks padrão: animação de ponta, muitas explosões, muita velocidade nos movimentos, mas pouca profundidade no roteiro. O filme começa muito bem, mas se perde no meio quando inevitavelmente o vilão paulatinamente torna-se herói e o novo vilão, constrangedoramente sem-graça, não segura as pontas. Mais de Metro Man e menos de Titan poderia ter feito de Megamente uma das melhores animações da leva mais recente, mas pelo menos ela ganha pontos pelo mise-en-scène impecável - tudo que é mostrado em tela em algum momento vai servir para adiantar ou solucionar o roteiro em algum outro, fazendo de Megamente um filme agradavelmente estruturado.

A rede social


Profissionais em ação


Direção: David Fincher
Título Original: The social network
Duração: 120 min
Idioma: Inglês

Lançamento: Dez/2010

Não importa muito se 500 milhões de pessoas utilizam o Facebook e sim se esse mesmo número se interessa em saber como ele foi criado. Desconfio que para a maioria das pessoas a curiosidade sobre esse assunto não é tão grande assim. Não ajuda o fato de que as intrigas envolvidas na origem do negócio, quando você pára para pensar, não é mais do que uma disputa legal relativamente simples (ainda que envolvendo muito dinheiro) entre duas ou três partes interessadas. 

Os elementos de disputa são mínimos: quem efetivamente é o dono da idéia. Simples assim. Não há grandes investigações a serem feitas, não há segredos envolvidos, nem assassinatos, corrupção ou qualquer coisa parecida. Nesse sentido, é emblemática a cena em que os gêmeos vão até o reitor de Harvard para pedir a tomada de providências em relação à disputa e, obviamente, nada acontece - é tudo uma questão menor e não há jogo de fumaças que altere isso.

A estória de A rede social é daquelas que normalmente gerariam telefilmes de baixo orçamento para atender a curiosidade de um limitado universo de pessoas que não estariam nem ao menos tão interessadas a ponto de ir ao cinema para vê-la. Mas David Fincher (Seven, O clube da luta) colocou as mãos nesse roteiro elementar e uma polêmica em torno de quão "canalha" ou "mau-caráter" seria Mark Zuckerberg, o CEO da empresa, ajudou a aumentar o hype pela película.

A verdade é que o filme só é (muito) bom por mera competência de direção de Fincher, pelos diálogos estroboscópicos de Aaron Sorking e pela ótima atuação de Jesse Eisenberger. 

O diretor potencializa a estória com uma narrativa não-linear que intercala cenas na mesa de negociação entre as partes em conflito com flashbacks dos primórdios da empresa que explicam parcialmente cada questão que está sendo colocada. Ele também é extremamente competente em utilizar efeitos de câmera, enquadramento, som e luz para dinamizar eventos em que pouca coisa acontece, como os geeks trabalhando em uma casa no Vale do Silício ou um encontro com o criador do Napster (Justin Timberlake, adequado como em Alpha Dog). Você vê o profissionalismo do diretor em cada cena - o que está sendo enquadrado, o corte para o detalhe, o movimento da câmera em volta dos personagens, o filtro simulando a embriaguez etc.

Os diálogos escritos por Sorking são rápidos e inteligentes, deixam pouco espaço para o expectador pensar sobre o que está acontecendo e tornam reais os geeks e nerds que passeiam pela tela. Einsenberg e seus poucos sorrisos e seu olhar determinado e desconfiado, dá mais profundidade ao personagem do que talvez o próprio Zuckerberg da "vida real" tenha, transformando-o em um sociopata borderline realmente interessante. Somada à qualidade técnica do filme e ao ótimo texto, sua atuação é um dos pontos altos das divertidas duas horas de duração da exibição. 

A rede social é bom cinema porque é bem realizado e prova que mesmo de um material base pouco interessante pode se fazer algo que chame bastante a atenção: é a "magia" da sétima-arte em ação.