sexta-feira, 29 de agosto de 2008

O nevoeiro

O fogo ou a frigideira?

Direção: Frank Darabont
Título original: The mist
Duração: 126 min
Idioma: Inglês
Lançamento: Ago/08

O nevoeiro é uma daquelas raras boas adaptações de livros de Stephen King para o cinema e também mais um acerto de Frank Darabont, mais conhecido pelo seu "Um sonho de liberdade", o qual 9 entre 10 amigos consideram um dos melhores filmes já feitos (ele é muito bom, mas até hoje não entendi o porque dessa quase unanimidade).

O filme pode frustrar na primeira meia-hora porque, novamente, 9 entre 10 entrevistados esperam um tipo de filme e percebem em um dado momento que vão levar outro (eu entre eles). Dentro da política de revelar o mínimo possível por mais irrelevante que seja, abstenho-me de fazer qualquer declaração mais específica, mas você deve saber (ou vai saber) do que estou falando.

O enrendo não exige muito dos atores e, quando o faz, Thomas Jane (Justiceiro, Hung) acaba enfraquecendo uma das cenas mais importantes do filme, mas o ator, assim como o resto do elenco, no geral entrega o esperado. O destaque fica por conta de Marcia Gay Harden (Na natureza selvagem, Meninos e lobos, Oscar por Pollock) na pele de uma fanática religiosa.

No final, o melhor do filme é focar no terror dentro do supermercado tanto ou mais do que no terror fora dele, provocando sustos na mesma medida em que deixa algo para pensar.

Para os fãs de terror, uma ótima pedida!

Trovão Tropical

Baixas Expectativas

Direção: Ben Stiller
Título Original: Tropic Thunder
Idioma: Inglês
Lançamento: Ago/08

Apesar de algumas cenas constrangedoras ou escatológicas, em boa parte do tempo Trovão Tropical funciona bem - tem sacadas legais e desce merecidas pancadas na mesmice e falta de imaginação da indústria cinematográfica (hollywoodiana). O humor é bastante irregular: acerta quando põe o dedo na própria ferida, mas erra quando tenta acertar aleatoriamente toda e qualquer minoria e ser o mais politicamente incorreto possível.

É necessário entrar com o espírito certo de diversão descompromissada e dar um desconto para as partes mais autoindulgentes. As piores delas são certamente as que contam com as participações "especiais" de Matthew McConaughey e Tom Cruise. Apesar de dar um descanso para a sequência de eventos na selva e as personagens em si terem o seu valor (o produtor e o agente), as atuações exageradas dos dois são constrangedoras e beiram o patético. Tom Cruise dançando com a sua bunda postiça é muita vergonha alheia (e não do bom tipo).

O filme não se leva a sério e, obviamente, nós também não deveríamos: desligue o julgamento crítico e aproveite sem pensar muito. Só não pegue o filme pela metade, porque uma das melhores partes é logo no começo, quando os personagens principais são apresentados através de trailers dos seus principais "sucessos". Uma sátira mostrando o quanto os trailers (e também os próprios filmes) de uma determinada categoria são ridiculamente iguais. É uma pena que o resto do filme não se mantenha nesse mesmo nível.

PS. - Robert Downey Jr. está impagável no papel de Kirk Lazarus, ator australiano, vencedor de Oscars, que se entrega tanto ao papel que passa por uma cirurgia de modificação de pele para interpretar um soldado negro.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Reflexos da inocência


Inocentemente desconjuntado

Direção: Baillie Walsh 
Título Original: Flashbacks of a fool 
Duração: 114 min 
Idioma: Inglês 
Lançamento: Ago/08 



Um narcisista, egocêntrico e junkie ator de cinema relembra momentos do seu passado apenas para que a audiência perceba que o que já era ruim só ficou pior ao longo dos tempos. Essa espécie de história de amadurecimento às avessas fica ainda mais capenga quando percebemos que não há qualquer evolução do personagem no presente. Enfim, não há transformação ou desenvolvimentoalgum no filme, apenas a narração de acontecimentos isolados. Não parece haver alguma conexão direta entre os acontecimentos no "presente" com os do passado (os flashbacks do título). 


O filme não é certamente de todo ruim, mas assemelha-se muito à uma típica colcha de retalhos com algumas boas idéias costuradas umas às outras por um arremedo de roetiro que simplesmente não era adequado para juntar aquelas histórias que pretendia costurar. Entre os pontos altos, uma cena bem executada em que o jovem personagem principal dubla com seu supostamente grande amor uma cança da banda Roxy Music e algumas das cenas em que Daniel Craig explode no seu papel de astro decadente. 

Mas, afinal, essa é uma história sobre amizade? amor? tragédias pessoais? escolhas erradas? Nada indica que seja uma coisa ou outra, mas todas elas de uma vez só. Ao invés de decidir sobre o que queria falar, o diretor foi trocando de genêro e situações ao longo do caminho e no final acabou com várias oportunidades não desenvolvidas na mão. Muitas cenas foram inseridas como tentativas de chocar e parecer mais "alternativo" e "cool" sem que acrescentassem nada ao conjunto. 

Poucas linhas narrativas são realmente finalizadas ou propriamente desenvolvidas e o que o(s) roteirista(s) parece considerar como conclusões, são apenas fatos jogados ao vento e que sem suporte não significam muita coisa. É como ver uma daquelas propagandas bizarras da MTV, que pode até ser agradável aos olhos e dar a impressão de um simbolismo profundo, mas na verdade não quer dizer muita coisa - é apenas "cool". 

Creio que fiquei de ver esse filme apenas porque alguns amigos confiáveis tinham me falado bem dele. Só posso assumir que, como ele passou desapercebido (se é que efetivamente passou) pelo cinema, todo mundo que o assistiu e gostou estava realmente com as expectativas muito baixas (se é que havia alguma) e, no fim das contas, ele, em alguns momentos isolados, pode até ser uma boa surpresa. Ênfase no "isolados". 

Senhores do Crime

Cru e Intenso


Direção: David Cronenberg
Título original: Eastern promises
Duração: 100 min
Idioma: Inglês
Lançamento: Fev/2008

Tratando de temas comuns a filmes sobre máfias, nesse caso a Vory v Zakone russa, tais como laços de família, honra, traição e violência e apimentando  essa já enojante sopa com o sórdido tema da escravidão e exploração sexual de adolescentes, Senhores do Crime aumenta a filmografia "suja" de David Cronenberg - diretor de filmes como Marcas da violência, Crash, Spider e A Mosca. Tirando a eventual canastrice de Vincent Cassel, o elenco que conta com Naomi Watts e alguns figurões europeus faz um excelente trabalho, mas é Viggo Mortensen quem mais uma vez, entrega-se com gana impressionante a seu papel, interpretando com maestria um personagem moralmente ambíguo, hermético, insondável e ao mesmo tempo atraente e amedrontador. Pesado, intrigante e escuro, o filme é daqueles que ficam por mais tempo em sua mente do que você gostaria. Resta inevitavelmente um resquício de nojo e asco pela humanidade, mesmo que algumas cenas não soem tão autênticas e tirem um pouco da força da história. E se de alguns filmes algumas cenas ficam para sempre, a intensa e visceral luta na sauna deve ficar tão associada a Senhores do Crime quanto a dança de Uma Thurman e John Travolta a Pulp Fiction com sua fetichista, violenta e crua intensidade.