sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Minhas mães e meu pai

Todos estão bem

Direção: Lisa Cholodenko
Título original: The kids are all right
Duração: 106 min
Idioma: Inglês
Lançamento: Nov/2010

Minhas mães e meu pai fala de relacionamentos, comprometimento e família. É um filme simples em sua premissa, mas extremamente complexo e poderoso na sua execução. O enredo apóia-se na ruptura causada em uma família após os filhos resolverem conhecer o doador do esperma que engravidou as mães, um casal de lésbicas. Annette Bening e Julianne Moore, como sempre, dão um show de interpretação e garantem total veracidade e profundidade a suas personagens. Mark Ruffalo, o pai, e Mia Wasikowska e Josh Hutcherson, os filhos, também entregam atuações convincentes, mas acabam ofuscados pela dupla principal. Boa caracterização, sentimentos familiares e ótimas sacadas cômicas em um filme que trata de temas complexos, com a complexidade que lhes é devida. Essencial.

domingo, 7 de novembro de 2010

God of War: Ghosts of Sparta

Atlântida, a Morte e a família de Kratos


Desenvolvedor: Ready at Dawn 
Plataforma: PS3, PSP
Gênero: Ação, Aventura
Itens de série: tudo o que se espera de um jogo da série God of War
Defeitos de fábrica: tudo o que se espera de um jogo da série God of War

Comprei há algum tempo na Playstation Network o pacote com os dois jogos da série God of War que foram lançados originalmente para o PSP e posteriormente remasterizados em HD para o PS3, mas só há umas duas semanas consegui voltar, depois de já ter jogado toda a trilogia principal, ao fantástico e violento universo de Kratos, o fantasma de Esparta.

Minha expectativa era de que o jogo fosse apenas e tão somente um caça-níquel da franquia, reciclando momentos de outros jogos e garantindo uma diversão de poucas horas. Estava parcialmente errado, pois a história de Ghosts of Sparta conecta-se fluidamente com o enredo principal e desenvolve ainda mais o protagonista, aprofundando seu rancor contra os deuses, em especial contra Ares, Atenas e Zeus.

Por não integrar a trilogia, sobram poucos e apenas secundários personagens da mitologia grega para dar vida ao roteiro do jogo. De alguns, a grande maioria, inclusive eu, nunca nem devem ter ouvido falar. Estão nessa categoria o monstro marinho Cila/Scylla e o leão Pireu/Piraeus. Contudo, o jogo ganha relevância em termos de história ao contar com aparições exclusivas de outros membros da família de Kratos como sua mãe a ninfa Calisto/Callisto e seu irmão Deimos e também, ainda que num contexto um tanto quanto sem sentido, o rei Midas.

Porém, o que destaca realmente o roteiro são dois outros fatores: Atlântida e Tânato/Thanatos. A primeira é cenário para a maior parte do jogo e não deve ser nem considerado spoiler alert que obviamente a causa para a derrocada da cidade é o próprio Kratos. O segundo é a morte em pessoa, o ceifador, a personificação do final de cada ser - não confundir com Hades, o deus que reinava sobre os mortos (e aparece na trilogia principal de God of War) - que é o principal antagonista.

Nota nerd: Apesar de baseado na mitologia grega, obviamente há licenças poéticas gigantescas no roteiro de God of War. Deimos na mitologia é o deus do terror, filho dos deuses Ares (guerra) e Afrodite (beleza) e irmão gêmeo de Phobos (medo). Ele não é, portanto, nem parente próximo de Kratos que é filho de um titã (Pallas) com uma deusa (Styx). Calisto realmente foi engravidada por Zeus (que no jogo *spoiler alert* é pai de Kratos), mas deu à luz a Arcas, pai dos Arcadianos, os gregos da região da Arcádia.

Vamos ao jogo em si: a ação de Ghosts of Sparta é praticamente ininterrupta, desacelerando em alguns poucos minutos em que Kratos precisa caminhar lentamente à beira de um penhasco ou resolver algum tipo de quebra-cabeças, esses que são na maioria idênticos aos dos outros jogos e não exigem muita massa encefálica para resolução.

A câmera, como já é o costume da série, sempre escolhe o melhor ângulo para mostrar o que há de melhor no momento, abrindo completamente no início das "fases", fazendo com que Kratos quase desapareça para poder mostrar a grandiosidade da nova seção do cenário em que você está entrando ou fechando em close-ups nos momentos quick-time-event em que há algum desmembramento ou finalização hiper-violenta de algum inimigo. 

Até para manter consistência, os combos e ataques especiais quando usando as armas principais Blades of Athena são idênticos aos dos outros jogos da franquia, mas a arma secundária, apesar de interessante é totalmente circunstancial. Os artefatos mágicos não vão muito longe do que já estamos acostumados e geralmente têm o mesmo efeito com variações apenas nas animações.

Em termos de jogabilidade, o único diferencial que consegui perceber é no  uso do Thera's Bane. Ao contrário do tradicional Rage of Olympus e variações que são utilizados circunstancial e  muito raramente, o efeito "fogo" do Thera's Bane é parte essencial da jogabilidade e a evasão para esperar que o medidor se recupere é crucial em algumas partes do jogo (nos modos mais difíceis). 

Nota nerd 2: Apesar de não existir na mitologia grega a titã Thera, há uma versão da derrocada de Atlântida que está associada à erupção de um vulcão na ilha grega de Thera, o que casa perfeitamente com o enredo do jogo. Fonte: God of War Wiki.  

Como já é possível perceber pelos parágrafos acima, tanto pelo bem quanto para o mal, Ghosts of Sparta não se distancia dos outros jogos da franquia. A maior parte dos cenários são muito semelhantes aos que você já viu anteriormente: você começa em um barco, você mergulha em alguns túneis, você luta em uma cidade com pessoas correndo em pânico a sua volta etc. Exceções apenas para Esparta e o nível final, os domínios de Thanatos, que conseguem alcançar um nível maior de diferenciação.

Além disso, os inimigos arroz-de-festa com pequenas variações visuais estão todos lá também: górgonas, ciclopes e harpias, todos dão as caras em algum momento. Os chefes são de maneira geral muito fáceis e os únicos momentos em que você realmente é desafiado são quando a quantidade de inimigos simultâneos se torna absurda (o que não é geralmente o tipo de desafio mais cerebral).

Contudo, o roteiro é interessante e a diversão é garantida. Ghosts of Sparta faz uma ótima ponte entre o final de God of War e o início de God of War 2 e deixa os eventos iniciais desse segundo jogo mais relevantes e com mais sentido, sempre mantendo a alta qualidade gráfica e de jogabilidade da franquia.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Scott Pilgrim contra o mundo

Para nerds e gamelovers


Direção: Edgar Wright
Título Original: Scott Pilgrim vs the World
Duração: 112 min
Idioma: Inglês
Lançamento: Nov/10

Para compensar a longa hibernação do blog, começo a partir de hoje uma séria de microposts sobre os filmes vistos mais recentemente, com uma análise rápida e direta, começando por Scott Pilgrim vs the World.

Um filme rápido, videoclíptico, cheio de sacadas legais para contar uma história rasa e adolescente com a estética e a estrutura típica de video-games. Michael Cera faz o seu personagem de sempre, desde que apareceu para o mundo como o George Michael de Arrested Development e, como sempre, funciona a contento. Mesmo com algumas boas piadas ao longo da projeção, não há muita estória para te manter efetivamente ligado o tempo inteiro: vale assistir com o mesmo compromisso com que se assiste vídeos no Youtube. É um filme visualmente agradável sem entregar nada que vá além da sinopse: Scott Pilgrim encontra a garota dos seus sonhos, mas terá que enfrentar a Liga dos Ex-namorados Diabólicos (?!). Por fim, vale destacar que, além de Cera, algumas outras caras conhecidas circulam pelo filme, mesmo que para pontas (bem pontas mesmo) como : Anna Kendrick (a garotinha de Amor sem escalas), Chris Evans (o Tocha Humana), Jason Schwartzman (Bored to Death), Thomas Jane (Hung), Brandon Routh (o novo Superman), Kieran Culkin (irmão e quase sósia de Macaulay Culkin). Falta substância sim, mas para fãs de video-game com tempo sobrando, uma boa e divertida opção. 

Um parto de viagem

O quanto vale um ator


Direção: Todd Phillips
Título original: Due date
Duração: 95 min
Idioma: Inglês
Lançamento: Nov/2010

Um parto de viagem não é tão engraçado quanto o filme anterior do diretor Todd Phillips (Se beber não case), mas é certamente um bom substituto enquanto outras boas comédias não aparecem nesse carente mercado. O filme já valeria o ingresso apenas e tão somente pela capacidade de Downey Jr. de proferir as frases mais sérias e banais com um timing tão perfeito a ponto de deixá-las hilárias - fora sua habilidade de improviso que trasnparece em inesperadas reações ou comentários curtos que fazem você esquecer do roteiro forçado e ficar prestando atenção apenas no ator em si. Além de Downey Jr, temos ainda o ótimo Zach Galifianakis, que complementa com um pouco de afeminação o seu já conhecido maconheiro-psicopata (praticamente o mesmo personagem tanto em Se beber não case, quanto em Bored to death) e entrega a criatura mais insuportável - e engraçada - que já existiu. A química entre os dois funciona muito bem e é o que mantém o filme em pé em meio a um roteiro cansativo, com situações escalando a níveis completamente desnecessários e momentos dramáticos que não têm como funcionar no meio de tanto exagero. Um parto de viagem cumpre com seu papel de arrancar risadas da platéia perfeitamente, mas se o roteiro tivesse ajudado os atores, poderia ter sido um filme bem mais completo.

Cyrus


Um bom representante de um gênero muito específico


Direção: Jay & Markus Duplass
Título Original: Cyrus
Duração: 91 min
Idioma: Inglês
Lançamento: Nov/2010

Cyrus é um daqueles filmes simples, sem muita firula, focados em poucos personagens desajustados com relações não usuais, mas que no fundo, no fundo, são gente como a gente à sua própria maneira. E Cyrus ainda é protagonizado por um ator especialista nesse tipo de filme: John C. Reilly - aquele feio, mas competente, que todo mundo conhece, porém absolutamente ninguém se dá ao trabalho de guardar o nome.

A premissa do filme é simples: um loser (Reilly) encontra uma mulher que gosta dele mesmo sendo o loser que é (Marisa Tomei), mas ela tem uma relação bastante dependente e bizarra com o filho Cyrus (Jonah Hill, o gordinho de Superbad), assim como o próprio Reilly também tem uma relação de dependência exagerada com a ex-mulher (Catherine Keener - O virgem de 40 anos)

Além de diálogos não convencionais, mas convincentes, o que esse tipo de filme precisa para ter sucesso é de bons atores para ficar de pé e Cyrus conta com um conjunto bastante competente nesse último quesito. Os antagonistas Reilly e Hill estão sensacionais em seus papéis e Marisa Tomei e Catherine Keever também fazem um bom trabalho, ainda que seus personagens exijam menos delas.

Cyrus certamente não é nada memorável, mas pode ser uma opção interessante considerando sua duração adequada que dificilmente vai causar arrependimentos.