quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Rebobine, por favor

Uma onda, não um filme

Direção: Michel Gondry
Título original: Be kind rewind
Duração: 102 min
Idioma: Inglês
Lançamento: Out/2008

Já faz um bom tempo que assisti esse filme, mas vinha postergando a resenha, sempre escrevendo sobre outra coisa e deixando inconscientemente essa para depois. Pensando um pouco mais sobre o assunto, acredito que a causa dessa procrastinação tenha sido simplesmente uma moderada covardia. Acho que tinha um pouco de medo de falar mal de um filme que a crítica de maneira geral elogiou e que fez sucesso no boca-a-boca com muita gente o recomendando para os amigos.
Minha impressão, quando finalmetne o vi, foi a de que poucas outras pessoas realmente o viram também. O que me pareceu é que as pessoas fixaram-se apenas no conceito: montagens toscas para filmes clássicos como Caça-Fantasmas ou Dirigindo Miss Daisy. Aquilo que efetivamente faz do filme interessante, foi picotado e postado no YouTube em vídeos curtos com essas remontagens com orçamento tendendo a zero protagonizadas essencialmente por Jack Black e Mos Def. Essas cenas geralmente curtas são o que efetivamente dá alguma graça ao filme e, sinceramente, nem sei se vale o esforço de assistí-lo por outro motivo que não o de para esperar por elas. É inegável, no entanto, a contribuição cultural de Rebobine, por favor: o YouTube foi e continua sendo inundado por produções "custo zero" com versões "criativamente toscas" de filmes consagrados. Michel Gondry já fez muito melhor: vale mais a pena rever Brilho eterno de uma mente sem lembrança.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Trailer Park of Terror

Reforçando (Pre)Conceitos

Direção: Steven Goldmann
Título original: Trailer Park of Terror
Duração: 91 min
Idioma: Inglês
Lançamento: Out/2008

Depois de um hiato de mais de um ano de postagens, esperamos finalmente voltar à normalidade e colocar em dia a produção em série de críticas. E ao invés de recomeçar com o pé direito tecendo elogios para alguma nova série desesperadoramente viciante ou um filme para entrar para história, vamos detonar uma rara nota mínima daquelas que só acontecem por descuido.

Tenho uma regra pessoal que me impede de ver filmes sobre os quais eu não tenha lido boas críticas ou recebido indicação de pelo menos uns dois amigos (de gosto confiável). A ideia de investir duas horas da minha vida em algo que saltou aleatoriamente na televisão definitivamente não me agrada. Porém, inadvertidamente, foi o que fiz ontem à noite.

Após um ótimo episódio de The Walking Dead e talvez ainda na vontade de continuar o clima de terror, parei displicentemente em uma cena escura em um dos canais da HBO. Cena padrão que indicava um filme de horror em andamento: um ônibus com seis ou sete supostos adolescentes - todos os atores já devem estar pelo menos chegando nos seus trinta, mas o texto dava a entender de que eram "jovens adultos" - em meio a uma tempestade. 

A exposição inicial já deveria ter sido o suficiente para desligar a TV na hora: o bully boa-pinta mostrava para o pastor que dirigia o ônibus como ele não conseguiu recuperar as "almas" dos jovens problemáticos que estavam no ônibus. Por almas, leia-se estereótipos e caricaturas: a vagabunda gostosa, a drogada, o gay enrustido, o loser punheteiro e a garota gótica (que aparentemente não tem problemas associados a drogas, sexo, ou qualquer outra coisa que justificasse sua presença no grupo, mas entrou no bolo porque todo mundo sabe que góticos não são normais).

Porque afinal qualquer um deles precisaria de "salvação" está além da minha capacidade de compreensão, mas sexo de maneira geral é um problema para norte-americanos, então vamos assumir a diferença cultural e seguir adiante. Não sem antes mencionar que apesar de toda a referência sexual e de obviamente tratar-se de um filme B, a luxúria passa longe do filme e quem for esperando por nudez vai ficar decepcionado (a menor das decepções no final das contas).

Uma segunda chance de perceber que obviamente ir dormir seria melhor do que ver mais um minuto sequer do filme, é uma cena subsequente em que os habitantes do estacionamento de trailers do filme são apresentados com mais detalhes. Mais uma vez, um festival de preconceitos e caricaturas: a obesa mórbida, o traficante, o xerife gordo e corrupto, a prostituta etc.

E então,depois de entediante preparação, começa finalmente o gore e somos brindados com efeitos especiais de fundo de quintal, mais linhas de diálogo de causar vergonha alheia e tentativas sofríveis de humor. O filme é uma bomba completa em todos os sentidos e é difícil entender como a mesma empresa que te presenteia com Game of Thrones, Sopranos e Six Feet Under permita que algo dessa estirpe entre na sua grade de programação.

Alguém poderia me empurrar o argumento do "você não pegou o espírito do filme" e compará-lo com Evil Dead ou filmes similares da linha "Terrir" em que o propósito é realmente o escracho. No entanto, há milhões de neurônios que separam obras desse tipo de Trailer Park Horror

Para não haver chances de que qualquer um dos leitores sinta o impulso de assisti-lo, deixo aqui o meu "O mocinho morre no final": a garota gótica é a única que fica viva, porque diferente dos outros "depravados e pecadores", ela só queria ser amada por ser ela mesma e não merecia morrer apenas por ser gótica (juro que isso não é uma dedução e sim uma linha de diálogo real do filme). 

Enfim, lições de vida que só filmes ruins proporcionam: drogas e sexo colocam você em risco de ser esfolado vivo e frito em óleo quente por caipiras zumbis e assistir a filmes aleatórios na TV definitivamente não aumentam o seu repertório de lições de vida.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Na mira do chefe

Tarantino em Bruges


Direção: Martin McDonagh
Título Original: In Bruges
Idioma: Inglês
Lançamento: Out/08

Em um esquema meio Cães de Aluguel de Tarantino, o toscamente entitulado "Na mira do chefe" é uma comédia onde o humor nasce nervosamente da violência inesperada, do absurdo das situações e da aparente incoerência e complexidade de suas personagens. Essas personagens são psicopatas com código de honra deturpados, idiotas sem direção na vida ou simplesmente "estranhos", como o anão racista ou a traficante maluca.

O filme segue marcado pelo contraponto entre os pontos de vista dos personagens de Farrell e Gleeson e os traumas e feridas de cada um deles. Depois de um serviço mal-sucedido em Londres, Ray e Ken são enviados pelo chefe Harry para Bruges, pequena cidade turística da Bélgica, para se esconder e aguardar os próximos passos.

É difícil saber se o filme é uma propaganda do departamento turístico da Bélgica ou não, porque ainda que a câmera vague pelas belas atrações da cidade e filme tudo com os olhos cultos e respeitosos de Ken (Gleeson), no fim é Ray (Farrell) quem faz a "narração" e a classifica como o "um lugar que ele até gostaria se tivesse nascido, não em Dublin, mas numa fazenda (e fosse retardado)".

Colin Farrell segue a mesma toada (que funciona) de suas interpretações em O sonho de Cassandra e Uma casa no fim do mundo, Gleeson está bem como o agente mais velho e sábio e Fiennes como sempre entrega uma ótima performance como o chefe psicótico.

Um filme barato de poucas locações e poucos personagens, com um bom roteiro e boas atuações e um resultado final bem interessante.