sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Anticristo

Mergulho no inferno

Direção: Lars Von Trier
Título Original: Antichrist
Duração: 108 min
Idioma: Inglês
Lançamento: Agosto/2009

Ao contrário de outros ótimos filmes do diretor, como Dançando no escuro e Dogville em que nossa angústia, medo, ira etc. derivavam das situações apresentadas e não das imagens em si, ou seja, originava-se mais do que você imaginava e não no que você via, Anticristo é efetivamente um filme de terror no nível de você querer desviar os olhos da tela em algumas partes.

Anticristo é feito para chocar e, às vezes, a violência e o sexo (em boa parte delas os dois juntos) atingem níveis gráficos que, para mim, excedem os limites do bom gosto e criam uma repulsa tal que é difícil disassociá-la do resto da projeção.

A carga simbólica é tão pesada e constante que é difícil manter-se conectado a história porque muitas cenas acabam sendo confusas ou você só as entende depois que elas já ficaram para trás há algum tempo. Típico filme que vale a pena sair navegando depois pela net e ler as milhares de análises complexas sobre o significado de cada uma das tomadas.

Mesmo que esse não seja seu passatempo preferido, Anticristo vale a conferida nem que seja para ver a sequência inicial que é de um primor estético sensacional. Tecnicamente um ótimo filme, mas não recomendado para qualquer um e, ainda que você possa passar sem ele, não dá para ficar indiferente quando se assiste.

Os normais 2 - A noite mais louca de todas

Melancólico Adeus

Direção: José Alvarenga Jr.
Título original: Os Normais 2 - A noite mais louca de todas
Duração: 75 min
Idioma: Português
Lançamento: Ago/2009

Séries dramáticas geralmente morrem pelo excesso - quando os mesmos personagens continuam a cada temporada tendo que sofrer por eventos cada vez mais trágicos, essas séries perdem o contato com a realidade e o público perde o interesse. Comédias, por sua vez, acabam perto do fim embarcando na risada fácil - na "casca de banana" - e esquecem que os que a fez boas no começo era a naturalidade e a genialidade da comicidade inerente a seus personagens ou a seus intérpretes. Friends, Will & Grace, Frasier, todas seguiram o mesmo triste caminho, sendo no final apenas uma sombra do que foram no começo. 

A série Os Normais também não conseguiu escapar a essa sina e o segundo filme que a segue é a prova dessa fatalidade. Lá no início, as risadas vinham fácil quando Vani e Rui estavam simplesmente conversando na cama - atores fantásticos com timing perfeito para entregar diálogos geniais. As situações inverossímeis já estavam lá, mas elas acabavam se integrando naturalmente às interações dos personagens.

Anos depois, em Os Normais 2, o que restou foi um roteiro justamente centrado nessas situações, abusando de sexo, drogas, quedas, desencontros forçados etc. E o casal protagonista luta por um momento de descanso para efetivamente fazer o que sabem fazer de melhor. A razão risada/minuto caiu para níveis mínimos nesse filme, mas estão lá ainda, com alta concentração em uma ou duas cenas. Infelizmente, passado o riso, fica um gosto amargo e melancólico ao entender tudo que poderia ser e não foi - melhor ter ficado com a lembrança de Vani e Rui como nós os conhecemos lá atrás.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Amantes


Pequenas grandes crianças

Direção: James Gray
Título original: Two lovers
Duração: 110 min
Idioma: Inglês
Lançamento: Ago/2009

Amantes não é um filme fácil de se resenhar e menos ainda de se classificar. Em uma análise mais superficial, ele parece ter muito pouco que o diferencie de outros dramas ou romances que você já tenha visto. O enredo é simples e direto: homem dividido entre duas mulheres de personalidades diametralmente opostas. O simbolismo de cada uma dessas mulheres é sutil e ao mesmo tempo evidente: tradição e família contra impulsividade e paixão. O cenário por sua vez é vago, comum, genérico: cidade grande, restaurantes, interior de edifícios e apartamentos, enfim, nada de novo no front. Não há nenhum personagem que fuja do conceito de cidadão médio e o mais próximo que o filme chega a aventar fora do ordinário é uma menção à possível condição clínica de bipolar do protagonista.

Contudo, ou talvez por isso mesmo, Amantes está entre os melhores filmes que assisti nesse ano. É daqueles que você só percebe o quão bom ele é dias ous semanas depois de tê-lo visto, quando inexplicavelmente cenas ainda reverberam em sua mente e detalhes, gestos e olhares simples refletem as situações imaginárias do filme na sua própria realidade. Creio que essa força venha da honestidade e familiaridade do roteiro - não há reviravoltas, nã há grandes eventos e há sim autenticidade, há pessoas e não personagens - cada um deles carrega um pouco de você e das pessoas com quem você convive. 

Joachin Phoenix está soberbo em sua naturalidade. Você não consegue nem conceber que está vendo um filme e que ele está interpretando um personagem e você tem a sensação de que está indiscreta e voyeuristicamente observando a vida de alguém. Como uma pequena criança grande, ele recusa-se a crescer ou a se enquadrar nos padrões que outras pessoas criaram para ele e fica difícil não se identificar, minimamente que seja, com ele. 

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Se nada mais der certo

Entediante Obra de Arte

Direção: José Eduardo Belmonte
Título original: Se nada mais der certo
Duração: 120 min
Idioma: Português
Lançamento: Ago/2009 

Três personagens, todos sem grana, todos órfãos (literal ou metaforicamente), sem alternativas. Some a esse cenário o título do filme e você sabe onde isso vai parar. Considerando-se também o clima pessimista e sujo de todas as cenas, parece óbvio que não há luz no fim do túnel. E Se nada mais der certo não decepciona nesse sentido, ao contrário, ele atende todas as expectativas que você tem para a história e são pouquíssimos os momentos em que tenta te surpreender. 

Por um outro lado, vê-se que o filme foi feito com cuidado aos detalhes. As cenas são carregadas de mensagem, mesmo quando em completo silêncio. Você sabe desde o começo que nada está ali por acaso. O diretor usa várias técnicas diferentes de enquadramento, ângulos não convencionais, filtros de câmera diversos, e outras tecnicalidades.

O elenco é bastante competente, em especial Caroline Abras, na pele de uma traficante andrógina que alterna entre emoções e reações conflitantes e vai da fragilidade à fúria em instantes. Todos os atores parecem se entregar realmente a seus papéis e isso facilita a conexão com os personagens (por mais distante e "alienígenas" que eles possam parecer para alguns - ou talvez a maioria - dos expectadores). João Miguel faz um trabalho, como sempre, competente e Cauã Reymond surpreende - ainda que seu tipo físico "surfista-modelinho" passe longe do que você esperaria do personagem que interpreta - jornalista ferrado, desempregado, sem grana, vivendo num muquifo.

Só que, no fim, Se nada mais der certo não é muito mais do que um exercício de cinema. Não há muita estória a ser contada e isso é um problema para um filme de duas horas. É fácil ver para quem foi montada essa película, é só ver o teor das críticas voando pela internet. Elas são quase tão indecifráveis quanto algumas das cenas do filme.

É para aqueles dias em que você não está procurando entretenimento, mas fingir que um filme cheio de tomadas lentas e ação esparsa pode ser "melhor" que Tropa de Elite (alguém chegou seriamente a compará-los em alguma crítica que li): tecnicamente digno de elogios, mas chato como uma tábua.