quarta-feira, 31 de março de 2010

Dark Wolverine #82-84

Uma força da natureza

Editora: Marvel Comics
Publicação: Mar-Jun/10
Roteiro: Daniel Way e Marjorie Liu
Arte: Giuseppe Camuncoli

Confesso que esperava algo muito pior do que o que li nessas três últimas edições. Esse foi meu primeiro contato com o "filho de Wolverine", um personagem que conceitualmente não me agradava já de partida. Fiquei me perguntando como uma personagem tão errática, imprevisível e insuportável poderia sustentar uma série solo, mas por algumas edições, ele até consegue segurar sua atenção.

Wolverine é violento, mal-humorado, anárquico, mas ao menos ele tem um código de honra e sempre tem alguma mulher para servir de âncora, seja ela um interesse romântico ou simplesmente um side-kick (Jubileu, Kitty Pryde). Você consegue ver uma "pessoa" e não só uma máquina de matar.

Daken, por sua vez, parece ser como o Coringa do filme "O Cavaleiro das Trevas". Ele é simplesmente uma "força da natureza" trazendo o caos por onde quer que passe e acaba não funcionando como um personagem real, mas sim como um "mecanismo narrativo" ambulante. 

Nessas três edições, há várias passagens isoladas legais, mas quando você olha especificamente para a participação do personagem em Siege, você percebe que não houve participação alguma. Daken quebra a cara de um soldado aliado para que ele não vá para a guerra, mas isso não contribui em nada para o roteiro; Daken inesperadamente beija o Mercenário, mas isso também não influencia em nada o enredo; As Parcas manipulam Daken para que ele traga o Ragnarok para Asgard, mas obviamente isso - mais uma vez - não dá em nada.

Enfim, como um estudo do personagem ou como uma introdução à série,  essa coleção de cenas isoladas funciona bem. Não havia, no entanto, a menor necessidade dessas micro-histórias acontecerem durante o "Cerco". Quando, então, essas edições são avaliadas como parte do mega-evento, o resultado é que elas são totalmente dispensáveis.

Para fechar, vale elogiar a arte de Camuncoli que é excepcionalmente versátil e alterna suave entre quadros com muita violência e sangue para devaneios surreais. Além disso,  ela consegue, assim como a arte de Miguel Sepulveda em Thunderbolts, construir verossimilhança para os cenários e te transportar com fidelidade para as ruas de Asgard e de Broxton. 

sexta-feira, 26 de março de 2010

Como treinar seu dragão

Apuro visual, desleixo emocional


Direção: Dean DeBlois e Chris Sanders
Título original: How to train your dragon
Duração: 98 min
Idioma: Inglês
Lançamento: Mar/2010

Animações voltadas para o público infantil que passam mensagens sobre tolerância, auto-afirmação e individualidade são sempre bem-vindas, principalmente as que o fazem com sutileza, deixando que a história entregue a mensagem sem martelá-la na sua cabeça (estilo Gorpo no final de cada episódio de He-man). Como treinar seu dragão entra nessa categoria e ainda tem animação da melhor qualidade, roteiro competente e bem executado e um protagonista carismático (ainda que a voz não seja tão compatível com a idade/porte físico do personagem). Faltou, no entanto, dar vida para os outros personagens e injetar um pouco mais de "diversão". A Dreamworks vem especializando-se muito mais em entregar aventura e ação do que em garantir algumas risadas e dar alma a seus personagens, ao contrário do que a concorrente Pixar costuma fazer: os brinquedos de Toy Story são muito mais "reais" do que as crianças de Como treinar seu dragão. Porém, em termos de animação, o segundo consegue ir um pouco mais longe que a concorrente, abusando de imagens estonteantes, leveza e agilidade de movimentos e cuidados com os detalhes. Faltou muito, mas muito pouco para esse filme figurar entre os melhores: faltou só um pouco mais de emoção genuína.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Ilha do medo

Sombrio e meticuloso quebra-cabeça

Direção: Martin Scorcese
Título original: Shutter Island
Duração: 138 min
Idioma: Inglês
Lançamento: fev/2010
 
Como em quase todas as resenhas, é difícil dissertar sobre a qualidade de um filme sem estragar a experiência de quem ainda não o viu, mesmo quando essa não é calcada em "surpresas" ou "segredos". Quanto menos você souber de um bom filme, mais significativa e compensadora tende a ser essa experiência. Então, você pode assumir que seu leitor já assistiu ao filme e comentar cenas, divagar sobre referências e símbolos e dissecar o roteiro como se fosse uma discussão pós-saída do cinema ou apenas indicar genericamente as principais característica para recomendá-lo (ou não). Escolho a segunda para que ninguém se pegue eventualmente surpreendido por uma informação indesejada. Reservemos possíveis discussões sobre detalhes desse (e de outros) filmes para a seção de comentários.

O enredo é simples e sob certo ângulo não muito original: dois policiais navegam até uma ilha que abriga um manicômio para investigar o desaparecimento de uma das pacientes. Som, fotografia, cenografia e direção de arte constroem o ambiente e a atmosfera perfeitos que por si já valem o filme. Alie-se a isso um bom elenco com ótimas atuações, em especial de Di Caprio e Ruffalo, a dupla de protagonistas, e você já garantiu um bom entretenimento.

Além disso, o roteiro é muito bem amarrado: todas as cenas estão no filme por algum motivo, todos os detalhes fazem sentido, nenhum diálogo é desperdiçado e a história vai construindo-se pouco a pouco e sempre. Algumas cenas, no entanto, especialmente as mais próximas do final, estendem-se um pouco mais do que necessário e prejudicam ligeiramente o ritmo do filme. No mais, a construção do quebra-cabeças é tão meticulosa e detalhista que o processo, ou o "como" a história é contada, acaba sobressaindo-se à história em si.

No fim das contas, é um prazer tanto deixar-se imergir no universo do filme e sua história, quanto imaginar o trabalho de construção de cada uma das cenas pelo diretor com suas diversas leituras e referências a outras obras do gênero.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Vírus

Uma (leve) variação do tema

Direção: Álex e David Pastor
Título original: Carriers
Duração: 85 min
Idioma: Inglês
Lançamento: Mar/2010

Doença letal e altamente contagiosa espalha-se pela América (ou mundo), e a proverbial luta pela sobrevivëncia da humanidade ganha contornos mais literais - o roteiro de Vírus trilha território altamente pisado e repisado seja por zumbis, doenças ou cataclismas nucleares, mas mesmo dentro desse cenário familiar ainda consegue tirar uma ou outra idéia original.

Um dos pontos interessantes do filme é o dilema moral amplificado: zumbis, por definição, já estão mortos, então, estourar os miolos de sua mãe-zumbi, por mais doloroso que seja, é facilmente racionalizável. Pessoas doentes ainda não estão mortas, mas pela sua própria sobrevivëncia é necessário tratá-las como se estivessem. As decisões ficam um pouco menos fáceis e diretas e sem muito esforço transforma as vítimas em carrascos.

A linha com que os diretores resolveram seguir é muito boa: a ameaça interna (o grupo) é mais perigoso para si mesmo do que a ameaça externa, e o conflito entre os personagens é o que dirige o filme ao invés de qualquer ataque de zumbis ou tribo rival.

A falha fatal, como sempre, aparece na caracterização dos personagens que não consegue ir além dos óbvios rótulos. Uma vez estabelecido cada "tipo" dentro do carro já nos primeiros três minutos de filme, é isso que vocë vai ter deles pelo resto do filme. O alívio dessa limitação vem na forma de um outros personagem com mais potencial que eles encontram ao longo do caminho (como o pai obstinado de Christopher Meloni), mas que, em sua maioria, não demoram muito a ficar pelo caminho também.

Vírus, enfim, não tem muito material que o tire da média, mas para quem gosta do gênero, ele reserva algumas idéias originais e uma hora e meia de moderada tensão. Baixe as expectativas, entre com o espírito de "apenas mais um filme de pós-apocalipse" e talvez você tenha muito boas surpresas no fim das contas.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Invincible Iron Man #20-24

Um passeio pela mente culpada de Tony Stark

Editora: Marvel Comics
Publicação: Jan-Mai/10
Roteiro: Matt Fraction
Arte: Salvador Larroca



Com "Stark: Disassembled", a Marvel completa finalmente a sequência de retornos da Trindade de seus Vingadores. Após a "ressurreição" religiosa-mitológica de Thor e a viagem no tempo do Capitão América, temos agora a jornada mental do Homem de Ferro e olhando para essas três histórias, nada parece mais coerente.

Stark sempre foi o cérebro dos Vingadores, assim como o Capitão América é o coração e o símbolo de valores nobres atemporais e, por sua vez, Thor é a manifestação do poder da fé no sobre-humano ou no "divino". Seus "retornos" são estruturados para representar aquilo que mais os define.

A história em si é bem "literária": pouca ação e muitos diálogos (ou monólogos). Apesar de estar em coma, Stark fala muito durante todas as cinco partes dessa trama, seja em vídeo ou em devaneios. Ele consegue mobilizar praticamente todo seu elenco de apoio (mais Thor e Capitão América) e garantir a participação de cada um deles no seu reboot (mesmo que para isso, seja preciso forçar muito a barra em alguns casos).

O destaque fica para os dilemas de Pepper Potts (sendo lançado à época do filme, essa personagem não poderia ficar sem destaque) que são muito mais relevantes do que os do protagonistas e o prenúncio do desenvolvimento de um triângulo amoroso com Maria Hill aumenta ainda mais o interesse.

Para não dizer que não falei sobre isso: uma tentativa de assassinato é enfiada na história para poder criar alguma tensão ou proporcionar pelo menos umas mirradas cenas de ação. Simplesmente não funciona. Seria melhor ter passado sem ela e ter encurtado a história para três ou quatro partes.

O resto é uma jornada pela mente comatosa e atormentada pela culpa de Tony Stark até o seu despertar que não consegue fugir do óbvio de histórias desse tipo. Mas pelo menos há muitas sequências belamente desenhadas ao longo do caminho.

As capas também são um pequeno espetáculo à parte e muito desse arco é exatamente isso: um banquete no visual, porém um tradicional feijão-com-arroz no roteiro.