sexta-feira, 30 de abril de 2010

As melhores coisas do mundo


Atualidade e nostalgia

Direção: Laís Bodanzky
Título original: As melhores coisas do mundo
Duração: 107 min
Idioma: Português
Lançamento: Abr/2010

O que esperar de um filme em que um dos personagens mais relevantes é interpretado por Fiuk? Preconceitos à parte, As melhores coisas do mundo tem bem mais conteúdo do que alguns julgariam. No mínimo, ver um filme nacional que não suba a favela, perca-se em inferninhos da Augusta ou mergulhe na miséria no nordeste do país, já é um alívio. Não que o enredo seja algo fora do mundo, mas é honesto, direto e consegue ser incrivelmente verdadeiro. Esse retrato tão factível da nova geração deve-se parcialmente à naturalidade com que os atores, especialmente os estreantes protagonista Francisco Miguez e Gabriela Rocha, dão vida a seus personagens, mas certamente também à muita pesquisa, visitas a colégios, entrevistas com adolescentes e outras coisas do tipo. Ao mesmo tempo em que é fácil se identificar com situações e emoções eternas e imutáveis que são hoje exatamente como eram na nossa própria época de colégio, é interessante ver o quanto mudança de valores e avanços tecnológicos da sociedade como um todo podem moldar os adolescentes (o melodrama existencial e os sentimentos exacerbados, no entanto, continuam exatamente iguais). Simples e efetivo, As melhores coisas da vida é uma "Sessão da Tarde" com algum conteúdo e muita nostalgia.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

The Mighty Avengers #34-36

Fim de festa

Editora: Marvel Comics
Publicação: Abr-Jun/2010
Roteiro: Dan Slott
Arte: Neil Edwards (#34) & Khoi Pham (#35-36)

Como já falei em algumas outras ocasiões, não vinha acompanhando muitas das séries de quadrinhos há um bom tempo, então estou um pouco desatualizado. Resolvi entrar em Mighty Avengers direto nas edições paralelas ao mega-evento The Siege, mas infelizmente essas eram também as três últimas edições desse título. A sensação é de ter chegado no final da festa e já ter gente varrendo o chão e limpando a casa.

Na primeira das histórias desse pacote, Pre-Siege Mentality, vemos o estranho grupo de Vingadores reunidos por Pym tirando satisfações com Loki por tê-los enganados nos últimos meses/semanas. Os desenhos de Neil Edwards não são dos melhores e a história em si não é das mais memoráveis, mas deu para notar que Dan Slott é um nerd da continuidade, pois há referências, entre outras, até à Atos de Vingança, uma saga que deve ter sido publicada nos dos anos oitenta. Devem ter sido interessante as suas histórias anteriores.

Já em Salvation, supostamente parte do evento The Siege, Hank Pym enfrenta sua "cria" e eterno arqui-inimigo Ultron. Essa segunda é bem melhor que a primeira e, além de fechar todas as pontas soltas e descontruir muitos elementos criados nessa passagem do autor pelos Vingadores, traz evoluções interessantes e relevantes para as personagens Jocasta, Janet Van Dyne e o próprio Hank Pym. Os desenhos de Khoi Pham também são uma evolução considerável em relação aos da edição anterior.

Apesar do selo The Siege nas capas das edições #35-36, nelas apenas são mostrados alguns "flashs" dos restantes dos Vingadores (Visão, Estatura, Amadeus etc.) durante os eventos da saga e a história em Mighty Avengers se dedica quase que exclusivamente ao enredo na mansão.

Apesar de já ter visto como tudo acaba, um dia vou desenterrar as edições anteriores do título e ler sobre essa estranha formação dos Poderosos Vingadores.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

A estrada

Entediantemente bom

Direção: John Hillcoat
Título original: The road
Duração: 111 min
Idioma: Inglês
Lançamento: Abr/2010


Sabe quando você assiste a um filme e se sente mal por estar achando chato algo visivelmente bom? A estrada se enquadra nessa categoria. Baseado em um ótimo livro, com um roteiro adaptado com destreza para não perder a profundidade do material original, realizado com extrema competência e agraciado com atores dando tudo de si em cenas fortes e difíceis, esse filme tinha tudo para ser uma obra-prima e realmente não fica muito longe disso. O grande problema de A estrada é que, por mais que a adaptação tente tirar água de pedra, pouca coisa realmente acontece na história e o forte do livro está na vida interior de seu protagonista: a desolação, o desespero e suas reflexões sobre vida, morte e sobrevivência - elementos que não geram muito movimento em tela. O tédio pode acabar vencendo em alguns momentos, mas para quem é fã de filmes pós-apocalípticos (ou bons filmes simplesmente), A estrada é essencial.

Alice no país das maravilhas

Dose suficiente de cogumelos



Direção: Tim Burton
Título Original: Alice in Wonderland
Duração: 108 min
Idioma: Inglês
Lançamento: Abr/10

Quando a notícia de que um filme sobre a Alice de Lewis Carroll seria filmado por Tim Burton, boa parte das pessoas que conheço confirmaram meu próprio sentimento: ele era o diretor perfeito para levar essa fábula surreal para a tela e, afinal, porque não tinham feito isso antes? Como ele também foi um dos primeiros a ser filmados em 3D na geração pós-Avatar, a espera pelo filme foi marcada por uma leve ansiedade e o tempo fez o seu trabalho de ir pouco a pouco aumentando as expectativas.

Alguns meses depois, tudo que ouvi dos pioneiros que foram ao cinema foi que o filme era muito menos do que eles esperavam... E isso foi o que salvou a experiência pra mim. Expectativas de volta onde deveriam estar, pude então deliciar-me com a leveza macabra do sorriso do Gato Risonho ou da bizarra graça gorducha dos irmãos Tweedle-Dee e Tweedle-Dum sem me preocupar se realmente o filme fazia jus ao que deveria ser ou qualquer coisa etérea nesse sentido.

Realmente o roteiro é muito mais raso que o material original e o maior tempo de tela que o Chapeleiro Louco ganha somente para Johnny Depp fazer suas caretas é injustificado. Apesar de várias bolas dentro como Jack Sparrow, Edward Mãos-de-teoura e outros, esse não é um para colocar na lista de acertos do ator. Ponto negativo também para Anne Hathaway que beira o ridículo com os trejeitos de sua Rainha Branca, a quem o roteiro esqueceu de dar significado e propósito.

Mas, de volta aos aspectos positivos, a cabeçuda Rainha Vermelha de Helena Bonham Carter traz o espetáculo de volta para a estória e certamente faz jus ao espírito da original. A protagonista Mia Wasikowska também está ótima como a determinada e independente Alice - ainda que uma garotinha nos seus nove ou dez anos teria sido muito melhor. E o final, ainda que mais apressado (e forçado) do que o que eu acredito pertinente, foi bastante satisfatório em termos "ideológicos".

Não chegou a alcançar as expectativas de todos, mas foi uma viagem visual bastante satisfatória.

domingo, 11 de abril de 2010

Human Target - Primeira Temporada

Exagerado, inverossímel, divertido

Human Target é daquelas séries que você não precisa seguir, pode assistir só um episódio isolado e ele provavelmente será suficiente. E você vai ficar feliz de saber que se um dia quiser, ainda tem alguns outros para ver. Teoricamente baseado na série da DC Comics, Human Target na TV, além do nome, traz dos quadrinhos apenas a idéia do guarda-costas que muda de identidade a cada nova missão para proteger o seu cliente.

Jonathan E. Steinberg, cujo única outra grande obra do currículo é a finada, mas saudosa, Jericho, produz e escreve o show. Ele consegue mater o ritmo primorosamente e cada bloco desenvolve uma nova ameaça/problema rodeado por diálogos rápidos e divertidos (ainda que nem sempre muito originais).

Human Target foca em três personagens fixos: Christopher Chance, seu sócio Winston e o resolve-qualquer-parada Guerrero. Chance é interpretado por Mark Valley, ator/dublê que já fez várias pontas e alguns personagens recorrentes em outras séries, mas que nunca tinha pego nenhum papel fixo mais relevante. O personagem é efetivamente o Alvo Humano do título e apesar de em teoria ter que mudar de identidade a cada caso, ele se mostra sempre o mesmo espertinho de respostas rápidas e sorriso irresistível para qualquer mulher. Mulheres que, obviamente, no princípio vai odiá-lo e menosprezá-lo, mas que acabará se entregando no final.

Chi McBride de Pushing Daisies, interpreta Winston, o ex-policial pé no chão e sensato com quem o expectador deve se identificar (é ele que vai verbalizar a inverossimilhança dos acontecimentos, enquanto os outros dois agem como se tudo estivesse dentro da mais perfeita normalidade), mas é geralmente o personagem bizarro de Jack Earle Hayle, Guerrero quem rouba a cena. Não à toa: Hayle é o interpréte de Rorschach em Watchmen, Freddy Krueger no remake de A Hora do Pesadelo e foi indicado ao Oscar pelo pedófilo de Pecados Íntimos.


As "Chance Girls" por sua vez são majoritariamente fracas em suas qualidades cênicas, mas obviamente as compensam com outros atributos. Elas infelizmente acabam sendo também um dos pontos baixos da série que em uma temporada inteira não conseguiu transformar nenhuma em genuíno interesse romântico para o personagem principal. Em cada episódio, uma nova beldade aparece, flerta e desaparece no esquecimento ao final. Exceção para a agente do FBI , que apesar de ser a mais bela de todas, é também uma das mais fracas em interpretação: ela consegue dois episódios, sendo que o segundo é um dos mais importantes para o enredo de "longo prazo".

Em apenas doze episódios de quarenta minutos, Chance escapa de um trem bala desgovernado, enfrenta terroristas em um avião em queda, um monastério no topo de uma motanha gelada no Canadá, invade uma embaixada, tenta conseguir o antídoto para um veneno que vai matá-lo exatamente no tempo que dura o episódio, embrenha-se na selva peruana para resgatar um pesquisador, impede o assassinato de um chefe de estado, participa de um torneio de boxe e uma seqüência de outras aventuras que um ser humano normal não experimentará nem em uma dezena de encarnações.

Em paralelo, uma história mais interessante e mais pessoal vai construindo-se Ela envolve um passado que Chance tenta esquecer e detalhes de como os três personagens principais vieram a trabalhar juntos. Aos poucos, e com alguma conexão, por mais tênue e frágil que seja, com o caso da vez, vamos descobrindo os momentos definidores do personagem principal e entendendo cada vez melhor suas motivações para fazer o que faz (não espere, certamente, um tratado de psicologia)

Segue um dos promos da série que foi ao ar antes do lançamento em janeiro desse ano e dá uma boa idéia do que esperar dela:

A série tem o bom senso de não se levar muito a sério em nenhum momento. Uma prova disso é o trailer estilo video-game abaixo:

Human Target também conta com uma ótima seqüência de abertura. Talvez não tão boa quanto as de Justified, True Blood, Dexter ou Six Feet Under, mas certamente uma que vale a conferida:


Para conferir as informações oficiais sobre a nova temporada que deve estrear na próxima semana (17/11), é só seguir o link até o site da FOX clicando aqui.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Sede de Sangue

Bizarrices Vampirescas Coreanas

Direção: Park Chan-Wook
Título Original: Bakjwi
Duração: 103 min
Idioma: Coreano
Lançamento: Abr/2010

Sede de Sangue demora um pouco para efetivamente ganhar ritmo. É possível mesmo dizer que você vê dois filmes diferentes: o da primeira metade da projeção é mais intimista, foca nas angústias do protagonista e no desenvolvimento de um romance proibido; já a segunda metade aposta na ação e em situações absurdas, misturando numa mesma cena elementos cômicos e dramáticas de uma maneira estranha pros meus padrões mentais ocidentais (hollywoodizados).

Essa sensação de estranheza aparece também no trabalho dos atores. É difícil dizer se eles são bons ou ruins, porque há momentos que você não sabe se uma risada é forçada porque para você ela parece fora de contexto ou se o ator é que não está conseguindo passar. De qualquer maneira, o filme ganha pontos simplesmente por nos apresentar esse desafio "cultural".

No entanto, é possível apontar outros méritos da projeção. Um deles, por exemplo, é o de, assim como em "Deixa ela entrar", contar uma história sobre vampiros que não se parece com as que estamos acostumados. Considerando a avalanche de produtos explorando o tema no momento e sua similaridade, esse é um grande ponto a favor.

Outro mérito vai para a equipe de fotografia que consegue preparar algumas cenas em cenários simples, mas muito bem pensados como no último dos encontros com o padre cego, a casa toda branca ou, principalmente, a sequência final.

Enfim, ainda que longe de ter o impacto de um "Oldboy" ou de atingir os níveis de ironia e esquisitice de "O hospedeiro", Sede de Sangue é um filme que vale a pena conferir, mesmo que seja necessário apertar o fast-forward de vez em quando.