sexta-feira, 24 de junho de 2011

A casa


Trapaça desleal

Direção: Gustavo Hernández
Título Original: La casa muda
Duração: 86 min
Idioma: Espanhol
Lançamento: Jun/2011

Baixo orçamento, apenas um cenário, pouquíssimos atores para contar em tempo real uma história baseada em fatos reais - essa é a proposta do filme uruguaio La casa muda que estreou há pouco tempo no Brasil. Em um aparente único longo plano (sem cortes ou edição) de quase uma hora e meia o filme acompanha a experiência de um pai e uma filha que são contratados para fazer a reforma de uma casa.

Como exercício cinematográfico, o filme até tem alguns pontos positivos como o uso criativo da luminosidade, mostrando apenas o que a protagonista consegue alcançar com a sua lanterna e criando uma ambientação correta, ou os enquadramentos bem escolhidos como, por exemplo, quando a câmera se afasta e limita a visão com uma porta impedindo que o expectador veja o que está acontecendo atrás das paredes laterais.

Porém, além dos equivocados efeitos sonoros que antecipam por poucos segundos e matam o efeito dos "sustos" ou elementos surpresas do roteiro, o filme trapaceia vergonhosamente na sua proposta de colocar o expectador como testemunha ocular dos eventos através dos efeitos de câmera e do plano único e dribla as regras acordadas inicialmente para poder fazer uma reviravolta desnecessária nos momentos finais.

A jornada tem até seus momentos, mas a trapaça no final é tão descarada e ilógica que é impossível não desprezar o filme depois de revelada.

domingo, 19 de junho de 2011

Game of Thrones

A promessa de uma obra-prima


E mais uma bola dentro da HBO!

Fãs de O Senhor dos Anéis, Game of Thrones é um programa imperdível para vocês.

Restante do mundo, Game of Thrones é um programa imperdível para vocês também.

O novo seriado da HBO agrupa quase dez horas de entretenimento que entregam exatamente o que seu título parece propor: intrigas palacianas, traições, vinganças e uma dezena de personagens sem escrúpulos (ou com mais escrúpulos do que deveriam) fazendo de tudo para sentar no cobiçado trono de ferro. 

Os primeiros capítulos da série, ainda que muito mais lentos que os finais, deixam qualquer um completamente perdido com um batalhão de personagens. O problema não são apenas os que aparecem na tela, mas também todos aqueles que são citados rotineiramente na maioria dos diálogos. Cada personagem refere-se a antepassados de seu clã ou a personagens que ainda não estão aparecendo na trama e criam um mundo complexo cheio de interligações e histórias ainda não contadas (ou que nunca serão).

Só mais para o final da temporada, consegui me localizar entre os diversos clãs e seus totens e entender suas vantagens competitivas no jogo pelo trono - dinheiro, poder militar, hereditariedade ou simplesmente "honra". Nesse ponto da narrativa, você já está totalmente envolvido na estória e o destino de cada uma daquelas "pessoas" torna-se crucial e o roteiro não decepciona, usando seus pré-conceitos para te surpreender ao mesmo tempo em que você percebe a "virada" era, na verdade, o resultado mais óbvio de uma sequência longa de eventos.

Um fantástico roteiro realmente já é meio caminho andado, mas a escolha do elenco e das locações também fazem toda a diferença. Há excelentes atores, mas o que mais rouba cenas é Peter Dinklage, o anão protagonista do independente O Agente da Estação. Com uma atuação digna de Emmy, mesmo que não leve o prêmio para casa, tem que ser ao menos indicado. A presença de tela de seu personagem aumenta consideravelmente ao longo dos episódios e parece até que tenha crescido de acordo com sua popularidade - ainda que eu não tenha como confirmar se todos os episódios já haviam sido gravados quando o piloto foi ao ar.
Ele, no entanto, está longe de ser exceção em um elenco transbordando de bons atores e, ainda mais, de boas atrizes. Particularmente, meu "arco de estória" favorito é certamente o que mostra a evolução da ótima Emilia Clarke e sua Daenerys Targarien, a melhor de todas as fortes e envolventes personagens femininas. As mulheres deixam, na maior parte do tempo, a violência a cargo dos homens, mas são elas, que com suas intrigas e ambições que realmente dão o tom da série - exceção às tradicionais mulheres-objeto das séries da HBO que já são um elemento esperado (assim como o uso de drogas).

Ainda que a série seja fantástica, Game of Thrones tem seus poucos pontos baixos: os episódios três a cinco mal avançam a história e o cenário que menos empolga é também um dos mais importantes: The Wall, a grande muralha que separa os sete reinos das terras geladas e aparentemente repleta de seres místicos ao norte. A história de Jon Snow segue extremamente devagar e quase sempre arrasta o ritmo dos episódios, ainda que, mais para o final, percebe-se que é dali que muitas estórias vão sair.

O show segue sua primeira temporada praticamente inteira com muitos poucos elementos de fantasia em si, apenas referenciando-os como parte de uma realidade que já ficou perdida na história desse mundo. Se não cair no erro de True Blood que começou a focar mais em seus elementos fantasiosos relegando as verdadeiras estórias, as dos personagens, a um papel coadjuvante, Game of Thrones tem tudo para ser uma das melhores séries já produzidas na televisão. 

Descobriremos daqui a alguns meses quando o inverno, e a segunda temporada, chegar...

Bônus: a fanstástica animação da abertura



sexta-feira, 10 de junho de 2011

Kung Fu Panda 2

Competência Incompleta



Direção: Jennifer Yu Nelson
Título Original: Kung Fu Panda 2
Duração: 90 min
Idioma: Inglês
Lançamento: Jun/11

Mais uma vez, a Dreamworks mostra ser incomparável em apuro técnico, tendo Kung Fu Panda 2 como uma amostra emblemática dessas habilidades artísticas e tecnológicas que são a vantagem competitiva da empresa no mercado de animação. Infelizmente, o filme também demonstra bem os principais defeitos dos produtos: roteiros afundados por idéias batidas e personagens rasamente caracterizados.

Apesar de conversar com seus próprios clichês e tirar deles alguns ótimos diálogos como aqueles entre o Panda e seu mestre no começo da estória ou quase todos aqueles que envolvem o Pavão, vilão do filme. Contudo, os clichês que não são explorados satiricamente (uma marca da empresa desde o ótimo debut de Shrek) deixam o filme um tanto previsível e até enfadonho, sendo o mais frágil de todos eles a própria espinha dorsal do roteiro: protagonista adotado quer descobrir quem é buscando suas origens. Você já sabe onde isso vai dar - vingança envolvendo o vilão e a descoberta da identidade na família adotiva.

O fraco roteiro, no entanto, não consegue abalar um ótimo filme que conta com ação ininterrupta, lutas ágeis com coreografias inovadoras e e fantásticas paisagens - e eu não me cansaria de estressar o quão "fantásticas" elas são. A exploração cômica da natureza animal e instintiva de seus personagens, como a sábia cabra que fica todo o tempo tentando comer o manto do pavão (hilário), a menção ao acasalamento dos louva-deus também são um agradável elemento do filme. Mais alguns pontos positivos: a beleza da animação-retrô das cenas de flashback ou devaneios e a qualidade da versão 3D, que não abusa no uso de elementos para "fora da tela" e imprime profundidade aos fantásticos cenários bolados pela equipe de fotografia.

A Dreamworks provavelmente conta com os melhores animadores e técnicos do mundo, mas já passou da hora de investir um pouco mais nos roteiristas e roubar o trono da Pixar - que fora a derrapada com Carros, está sempre na pole position no quesito emoção.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

X-men: Primeira Classe

Renascendo no Passado

Direção: Matthew Vaughn
Título Original: X-men - First Class
Duração: 132 min
Idioma: Inglês
Lançamento: Jun/11

Mesmo depois de ler inúmeras críticas positivas, algumas delas demasiadamente entusiasmadas, fui ao cinema com baixas expectativas para X-men: Primeira Classe. Creio que a aventura solo de Wolverine e a curta e bizarra conclusão da trilogia original (X-men: O confronto final de Brett Ratner) foram os principais culpados dessa leve apatia. X-men: Primeira Classe, no entanto, reavivou meu interesse pelos heróis mutantes no cinema. 


Dentre os vários trunfos do divertido filme, o maior deles sem sombra de dúvidas, é a escolha do elenco. Michael Fassbender e James McAvoy estão fantásticos, mas Kevin Bacon também, inesperadamente para mim, consegue roubar a maioria das cenas em que aparece. O resto do elenco que inclui Rose Byrne (Moira MacTaggert), Nicholas Hoult (Fera), Jennifer Lawrence (Mística) e Caleb Landry Jones (Banshee) também cumpre muito bem seus papéis, ainda que seus personagens fiquem na berlinda pela maior parte do tempo.


É prazeroso ver que a arrogância e de Xavier está lá desde o começo e ver que dessa vez ela funciona. Aquela aparente necessidade de estar acima de tudo e de todos, sempre condescendentemente achando as respostas corretas, sempre tentando convencer os outros de que ele e mais ninguém sabe o caminho com, obviamente, a melhor das intenções. A vantagem de uma estória no passado é que essas características enfadonhas do personagem (e que tornam os X-men sem Xavier, muito mais interessantes, ainda que seus ideiais estejam sempre embutidos em todas as estórias) são contrabalanceadas por uma atitude juvenil, até meio malandra, uma auto-confiança exagerada e um lado conquistador e mulherengo. Xavier continua sendo o mesmo mala, mas um pouco mais divertido. Obrigado, McAvoy!


Magneto, no entanto, e principalmente por "culpa" de Michael Fassbender, é quem comanda o filme - lembrando que inicialmente teríamos um "Magneto: Origens" no lugar desse filme. O alemão-irlandês é um ator que sabe aproveitar muito bem a oportunidade e deve muito em breve protagonizar muito mais outros filmes de ação no futuro (A licença para matar de Daniel Craig está a perigo). Bonito, carismático e com capacidade dramática acima da média, ele é fácil uma promessa para o futuro - ou uma confirmação no presente, já que ele já tinha chamado atenção em Bastardos Inglórios.


E a química entre Fassbender e McAvoy também ajuda muito, porque o roteiro não chega a realmente a didaticamente criar as situações necessárias para o desenvolvimento da amizade. Pelo roteiro, inclusive, Xavier parece considerar Erik como mais um de seus alunos ou qualquer outra pessoa que não está no mesmo nível que ele e Erik, por sua vez, está tão obcecado com sua missão a ponto de não ter tempo de sequer considerar a existência de Xavier. Mas talvez a intenção fosse essa mesmo e então, de qualquer maneira, funcionou (e muito bem).


As poucas modificações feitas no material original (i.e. os quadrinhos), são bastante satisfatórias: a importância maior que deram a Mística, uma das personagens mais maltratadas do universo mutante - com exceção da fase de revista solo escrita pelo genial Brian K. Vaughn -, foi extremamente bem-vinda. E a nova versão de Sebastian Shaw e do Clube do Inferno como um todo não atrapalha - era necessário um vilão de qualquer jeito, afinal de contas é um filme de super-heróis.


A escolha da primeira classe em si (nos quadrinhos teríamos Ciclope, Fênix, Fera, Anjo e Homem de Gelo), no entanto, foi minimamente inesperada: uma seleção de personagens bastante eclética e, talvez por isso mesmo, um tanto inefetiva. É bem verdade que, infelizmente, da formação original, só Fera poderia aparecer nesse filme, considerando que os outros estariam muito mais velhos na trilogia original se já fossem adolescentes nos anos 60. 


Dentro dessa limitação, Banshee é uma escolha perfeita e, apesar de ele ser uma cópia do Ron Weasley de Harry Potter, tem seu valor cômico e compensa. O restante (Angel, Destrutor e Darwin) são escolhas, no mínimo peculiares, e esses personagens acabam se envolvendo em tramas desnecessárias ou são interpretados por atores que passariam vergonha até na Malhação.


Do lado dos vilões, há limitações orçamentárias (ou talvez limitações criativas mesmo) e acabamos com alguns que não abrem a boca (tipo o Dentes-de-Sabre do primeiro filme), são refugo de efeitos especiais já utilizados (o demônio Azazel com os mesmo poderes de Noturno) ou tiram de personagens interessantes e relevantes para os quadrinhos parte do seu brilho (Emma Frost).


Os efeitos especiais deixam a desejar uma hora ou outra, especialmente nas cenas em que os personagens voam, chegando ao nível de algumas cenas parecerem ter voltado ao nível tecnológico de "A freira voadora", quando a câmera simplesmente dá um close nos cabelos esvoaçantes da personagem para simular vôo. 


X-men: Primeira Classe certamente tem suas falhas e está longe de atingir níveis épicos como aconteceu com Cavaleiro das Trevas, mas como fã incondicional dos mutantes da Marvel, essa sem dúvida, foi a melhor (seguido de perto pelo segundo) versão que já vi deles na tela. Um filme leve, que não se leva tanto a sério, mesmo navegando por águas mais profundas como cicatrizes do holocausto e ações afirmativas e uma trama divertida e nostálgica remetendo à infância e adolescência de nerds da minha geração. Como não gostar dele?


O site Den of the Geek fez um comentário bastante pertinente: apesar de ser apenas cerca de cinco minutos mais curto que o novo Piratas do Caribe, a sensação é a de que X-men parece ter pelo menos a metade da duração. O tempo passa voando e você ainda termina com aquela vontade de conhecer a "segunda classe" ou, quem sabe, a "irmanda de mutantes" de Magneto.


Tomara que não demore...