sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Do começo ao fim

Involuntária Ficção Científica

Direção: Aluizio Abranches
Título original: Do começo ao fim
Duração: 90 min
Idioma: Português
Lançamento: Nov/2009

Do começo ao fim é uma aberração completa, mas não pelos motivos pelo qual ele mesmo esperaria ser. É um tiro que passou longe do alvo - qualquer que tenha sido esse alvo. É uma daquelas obras que no intuito de quebrar preconceitos (ou simplesmente pré-conceitos) caem na própria armadilha e criam situações tão descoladas da realidade a ponto de deixá-las inócuas ou, ainda pior, ofensivas e desrespeitosas. 

O filme teve mais repercussão entre a divulgação do trailer e sua efetiva estréia do que depois dela porque o tema do qual ele se propunha tratar exaltou a ala religiosa-conservadora que pedia até mesmo a proibição da exibição. Porém, a reação ao filme em si variou entre bocejos e uma indignação um pouco diferente da esperada.

O grande problema do filme é que ele pega dois temas altamente espinhosos (incesto e homossexualismo), combina os dois em um só (incesto entre dois irmãos gays) e faz com essa nitroglicerina uma sessão-da-tarde. Na ânsia de vender a anormalidade (simplesmente algo que não é o padrão) como normalidade absoluta, o filme parece uma ficção científica, mostrando um mundo paralelo onde os padrões sociais e os comportamentos humanos são totalmente diferentes dos do nosso mundo - se nem na mais evoluída família da mais desenvolvida das sociedades você encontraria essa realidade, quem dirá no Rio de Janeiro. 

Apesar de um dos protagonistas mencionar que o casal teria que enfrentar deus e o mundo pelo seu amor (mais do que esperado por qualquer expectador), o ápice (ou o único) desses desafios é a distância: quando um deles precisa ir para outro continente e o conflito maior é uma possível traição que nem ao menos se concretiza. De resto, é a vida como ela é... Como ela é no mundo paralelo, claro.

Do começo ao fim, dentro do que ele pretende ser, ou seja, apenas uma história romântica típica, consegue ser no máximo um filme mediano. Mas chega a ser um desaforo querer fazer um filme sobre um casal de irmãos gays com enredo de novela das seis.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Thor #601-603 e Giant-Size Finale

Deuses humanos



Editora: Marvel Comics

Publicação: Jun/09 a Jan/10

Roteiro: J.M.Straczynski

Arte: Marko Djurdjevic

A série cai um pouco de qualidade nesse terceiro arco/encadernado da nova série de Thor quando os deuses mudam-se para Latveria e Balder continua totalmente sem saber o que diabos está fazendo, sendo jogado pela história de um lado para o outro. A arte continua fantástica e as paisagens do reino de Doom rendem cenas ainda melhores que nas histórias anteriores.


Esse arco desenvolve o relacionamento entre Bill e Lady Kelda e nada de novo aqui: deuses imortais impressionados com a capacidade de maravilhar-se das criaturas finitas. Fica a sensação de que essa estória merecia mais tempo de maturação para ter o impacto que se esperava dela, mas isso não implica que ela tenha ficado ruim da maneira que foi executada.

sábado, 14 de novembro de 2009

Manipulador de Cérebros

A Experiência dos Cubos Mortais

Direção: Jonathan Liebesman
Título Original: The Killing Room
Duração: 93 min
Idioma: Inglês
Lançamento: Mai/2010

Antes sequer de começar, uma digressão: como ninguém conseguiu pensar em um nome melhor para traduzir "The Killing Room"? Sala da Morte? Quarto Mortal? O Quarto Branco? Experimento Mortal? Não sei, mas qualquer outra coisa parece melhor do que o título escolhido. No mínimo, retirar "Cérebros" já ajudaria, porque certametne "Manipulador de Mentes" soa bem melhor.

Enfim, o filme de Jonathan Liebesman ("O massacre da serra elétrica") mostra uma psicóloga sendo testada para uma vaga em que ela precisa fazer observações sobre o perfil de quatro participantes de um experimento. Ele conta com ótimas performances de Chloë Sevigni e Peter Stormare (frios e sádicos na medida correta), assim como de Timothy Hutton, Clea DuVall, Shea Whigham e até mesmo do rapper/apresentador de programa infantil Nick Cannon (irreconhecível).

Ainda que o filme seja um pouco lento no começo, a partir de determinada cena, o clima fica tenso e as situações vão escalando ininterruptamente. Sem apelar para violência física além do necessário e atendo-se muito mais ao aspecto psicológico, o filme tem bons momentos no estilo "Zoológico Humano" ou "A Experiência".

O quarto branco e espartanamente mobiliado, os ruídos intermitentes ao fundo quase imperceptíveis no começo que crescem ao longo da projeção e também as vozes à la "lançamento de foguete da NASA" que volta e meia interrompem o fluxo narrativo, todos esses elementos juntos conseguem criar o clima sufocante e ameaçador ideal para esse tipo de filme.

Bem, ok. Até aqui nada justificaria o Código 2 estampando essa crítica lá em cima, mas a verdade é que nos detalhes e nas cenas individuais não há nada realmente ruim com o filme. O problema só aparece quando você analisa o pacote completo.

Leia com cuidado o próximo parágrafo, revelações possivelmente indesejadas adiante (SPOILER ALERT!).

Dois problemas gravíssimos e centrais afligem "Manipulador": a suposta protagonista simplesmente não precisaria existir e a justificativa para o experimento não se sustenta quando você reflete um pouco mais sobre ela.

Em relação à primeira e menor falha entre elas, considere que o eixo narrativo do filme se constrói ao redor do dilema de Ms. Reilly (Sevigni) em aceitar ou não a missão que estão lhe propondo. A história é contada tendo essa personagem como observadora e ela é de certa maneira "os olhos do expectador". Existe um esforço da atriz surpreendente na construção dessa personagem e um trabalho minucioso de passar com olhares todos seus conflitos internos. Câmera e trilha sonora pontuam e acentuam cada um desses momentos. Esses fatores nos fazem crer que ela e seu dilema têm alguma são o cerne da trama.

Porém, quando você chega aos minutos finais descobre que... Ms. Reilly não precisaria nem existir. Não é difícil você verificar esse argumento: edite mentalmente o filme e retire todas as cenas em que ela aparece. Alguma coisa mudou? Pode ter certeza de que não. Afinal, a única cena em que ela efetivamente interferiria no enredo passa-se dentro de sua própria cabeça.

É extremamente frustrante para um expectador gastar energia se envolvendo com uma personagem, tentando entender o que vai justificar suas decisões e ela simplesmente não tomar nenhuma no final e não ter qualquer influência no roteiro.

Ok. Você poderia viver com essa falha certamente. Sigamos para o segundo problema: a justificativa para o experimento (e, portanto, para a existência do filme) é identificar pessoas que estejam dispostas a morrer por um bem maior para que elas possam futuramente ser utilizadas como bombas humanas. 

É justo questionar então: essa é a melhor e mais eficiente maneira de se descobrir esse tipo de pessoa? E, mais importante, porque diabos você precisa dessas pessoas como bombas humanas?

Se qualquer uma dessas respostas não for satisfatória, o filme passa a ser um mecanismo funcionando pela simples razão de ser um mecanismo. Você assiste pessoas respondendo perguntas sem resposta, tentando escapar de uma sala intimidadora e ficando desesperadas a cada morte de uma delas simplesmente porque é "legal" ver pessoas nessa situação.

Vamos à primeira das perguntas. Como identificar alguém que estaria disposto a morrer pelo seu país? A mais direta das respostas seria: perguntar! E o filme admite esse buraco na hora em que Ms. Reilly observa que eles já haviam identificado o candidato pelos questionários e que não havia razão para todo o resto. Outra idéia é começar a sua busca entre pessoas que, por princípio, estariam dispostas a morrer pela pátria, ou seja, os militares. Patriotas que vão, em alguns casos, voluntariamente para a guerra. Obviamente nenhuma dessas duas respostas permitiria que esse filme existisse, então vamos em frente.

Mas e quanto à resposta do filme para a segunda pergunta: Porque você precisa dessa pessoa? "Para enfrentar nossos inimigos terroristas no seu mesmo campo de batalha" (ou algo parecido). 

Pare e respire. Isso faz algum sentido?

Estamos falando dos Estados Unidos, o país com bombas nucleares, mísseis teleguiados capazes de acertar uma formiga do outro lado do mundo, um exército de supersoldados hi-tech? Esses Estados Unidos?

Depois que eles tiverem "doutrinado" esses candidatos, os tais civis "convertidos" vão fazer exatamente o que? Vão se infiltrar em uma aldeia no Afeganistão ou no Iraque e quando os inimigos menos esperarem vão se explodir e levar algumas cabras e outros civis junto com eles? Vão sequestrar um avião com destino à Teerã e atirá-lo contra alguma Mesquita?

A verdade é que não há ponto nenhum no filme que acabamos de assistir. É apenas um grupo de pessoas colocando outro grupo de pessoas em um experimento que é legal pelos simples fato de ser um experimento.

"Manipulador de Cérebros" (arghh) termina e te abandona com dois sentimentos conflitantes. Frustrado porque o desfecho descontrói e torna irrelevante tudo o que aconteceu antes, mas satisfeito por ter ficado tenso, empolgado e curioso durante todo o restante do filme. Esse segundo sentimento faz o filme ter um mínimo valor.