terça-feira, 18 de maio de 2010

V

"We are of peace, always!"

Alerta: serão reveladas abaixo informações sobre a primeira temporada da série que podem estragar a experiência de quem ainda não a assistiu - SPOILER ALERT!

Por vários motivos, eu quero muito gostar de V. A série trata de temas que me são caros e normalmente geram boas histórias como paranóia, fé, dissimulação, terrorismo, manipulação de massas etc. Além disso, ela é protagonizada por minha atriz preferida de Lost, Elizabeth Mitchel, e co-protagonizada por uma brasileira que foi a escolha perfeita para o papel da líder dos Visitantes. No mais, a ABC realmente investiu na série e apesar do excessivo uso do "fundo azul", os efeitos são suficientes para te inserir na realidade da história.

E, na maior parte do tempo, eu gosto bastante de V. A série empolga e proporciona bons momentos espalhados aqui e ali. Cada episódio normalmente se constrói sobre um tema no mínimo interessante e que é solucionado ou concluído, nem que seja parcialmente, naquele mesmo episódio. Simultaneamente a história maior vai avançando de gancho em ganho enquanto o cenário para o final vai se formando. Há, contudo, um problema estrutural que ameaça constantemente colocar a série abaixo.

Essa grande falha é, sem dúvida, a falta de proporcionalidade entre os antagonistas. Apesar do quarteto principal da resistência ir colecionando pequenas vitórias que dão algum gás para trama ao longo do caminho, o poder de fogo do lado dos visitantes é tão absurdamente maior que parece impossível uma virada que não venha através de um "Deus Ex Machina". Isto é, um elemento externo e não mencionado previamente aparece e soluciona o que não tinha solução. Eu só espero que, quando já tiverem passado do ponto sem retorno para onde estão rumando, os alienígenas não sejam derrotados por uma "gripe".

Esse problema estrutural poderia ter se resolvido, quando na metade da temporada surgiu o conceito da Quinta Coluna. A idéia é que haveriam ao redor do mundo várias células dormentes de Visitantes e Humanos dispostos a lutar contra Anna. Isso poderia rebalancear um conflito absolutamente desigual, só que infelizmente, eles começaram a descontruir a Quinta Coluna logo nos episódios subsequentes.

Porém o que realmente pode ter enterrado qualquer chance equilíbirio foram os eventos do final da temporada. Com uma frota gigantesca a caminho e o céu ficando vermelho, aparentemente indicando que os Visitantes já estariam prematuramente dispostos a deixar o caminho diplomático, parece pouco provável que os seres humanos (para não falar de quatro pessoas) efetivamente consigam rechaçar a invasão. Mesmo que todos os povos se unissem contra os Visitantes agora, que chance teríamos contra inimigos com armas e tencologia muito mais avançadas que as nossas?

Há outros problemas menores que estão no campo das oportunidades perdidas, como, por exemplo, não montar a série de forma que nenhum dos dois lados pudesse ser considerado o "mal" ou o "bem". Estou torcendo para que todas as "maldades" que os Visitantes já perpetraram - como assassinar membros da Quinta Coluna e seus familiares, fazer experiências em humanos, eliminar Visitantes que "humanizaram-se", colocar rastreadores nas pessoas etc. - sejam por um "bem maior", e que no final das contas os dois lados estejam lutando pela mesma coisa (i.e. o bem da humanidade) de maneiras divergentes. Mesmo que, no caso dos Visitantes, essa maneira seja o bom e velho esquema do "salvar a humanidade dela mesma".

Outra oportunidade que ainda não foi perdida, mas que parece que vai ser, refere-se à "lealdade" de Chad Decker, o repórter. Em determinados momentos nos episódios finais, era impossível dizer qual era a agenda da personagem. Ele realmente está servindo Anna? Ele está traindo o Padre Jack ou precisa enganá-lo para poder conquistar ainda mais a confiança de Anna? Ou ele tem a sua própria agenda e vai ficar mudando de lado conforme for mais conveniente? Apesar dos ótimos diálogos que já foram escritos, parece que realmente ele já foi "fisgado" por Anna. Vai ser preciso esperar para ver.

Quanto ao elenco da série, pelo menos entre os protagonistas não há performances realmente ruins. Elizabeth Mitchell passa confiança como a agente do FBI Erica Evans, mas consegue demonstrar fragilidade quando seu filho está em perigo. Joel Gretsch convence também como o padre Jack, e a presença de uma personagem como essa me deixou um pouco preocupado no começo, mas com temas/conceitos como o "Bliss" de Anna ou o projeto dos Visitantes de serem adorados como deuses, ele parece uma escolha adequada. Mark Hildreth, por sua vez, não é nenhum candidato ao Emmy, mas, ao menos, seu personagem Joshua foi o pivô das duas melhores viradas de roteiro, a primeira quando ele mata Dale, o ex-parceiro de Erica, e no final da série quando descobrimos que ele não foi morto por Erica.

Porém, Morena Baccarin é que é realmente a grande estrela da série. Sem seu sorrisinho discreto, sua beleza exótica e (pode ser jogo de câmera) levemente reptiliana, a história não funcionaria tão bem. Nenhum outro V consegue ser tão enigmático quanto ela, principalmente a sua inexpressiva filha Lisa (Laura Vandervoot), a Barbie do Espaço.

Se V, na segunda temporada, conseguir resolver seu problemas estrutural básico e desenvolver melhor alguns dos muitos conceitos legais que foram mal aproveitados na primeira, V pode entrar para a lista das melhores séries de ficção científica ao lado de Lost, Battlestar Galactica, Arquivo X e outras. Por enquanto, ela é só um bom programa com alguns problemas de roteiro, mas ainda assim divertido.

Eu continuo apoiando e acreditando na ABC e seus Visitantes.

We are of peace, always!

2 comentários:

Pedro disse...

Dae Zagolino! Muito pertinente os comentários. Como você, também estou torcendo pelo sucesso da série.
Abs!

Rodrigo Zago disse...

Caramba! Já valeu ter iniciado esse blog só de ter conseguido te tirar da toca!
Pensava que nunca mais fosse ouvir falar de você... hehe
E aí? Como estão as coisas aí embaixo?

Quanto a V, estou esperando pra ver se na segunda temporada em novembro eles acertam a mão, mas vai ser difícil. O que mais você tem visto de bom?