quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Mr. Nobody

O poder dos detalhes

Direção: Jaco Van Dormael
Título Original: Mr. Nobody
Duração: 138 min
Idioma: Inglês
Lançamento: Jan/10

Um aviso importante logo de cara: Mr. Nobody é insuportavelmente não-linear, com cortes de minuto em minuto (ou segundos) para situações completamente diferentes, com personagens diferentes em cenários absurdamente diferentes. É quase inevitável que seu cérebro continuará procurando decifrar a estória o máximo possível e juntar cada um dos desconexos pedaços em uma única linha de raciocínio, mas se há um conselho a ser dado para quem pretende assistir a esse filme, ele é: nem tente. 

A melhor maneira de aproveitar Mr. Nobody é manter a atenção nos detalhes, focar nas passagens de cena criativas, na trilha sonora eclética, nos close-ups extremos, nas escolhas de texturas, nos cenários bem bolados e nas tomadas originais. Imaginar que ele é um videoclipe de mais de duas horas com eventuais paradas para (tentar) contar pedaços de estórias. 

Apesar de em alguns momentos o filme descambar para o onírico Lynchiniano (como em Mulholland Drive ou A estrada perdida), existe sim um fiapo de explicação alinhavando todas aquelas cenas aparentementes aleatórias. É apenas triste que esse fiapo seja tão dececpcionante quanto o clássico "E foi tudo um sonho". Então, novamente aconselho, aproveite a viagem sem se preocupar muito com o local de chegada.

Mesmo porque, em algum momento de suas mais de duas horas, parte do encanto do filme se perde e você começa a ansiar por uma conclusão que parece não chegar nunca. É quase impossível esconder a falta de um roteiro coerente e denso o suficiente para dar substância a tantas idéias lançadas ao vento. E dá-lhe Nemo rolando com Anna na cama, e agora na grama, e agora na mesa da cozinha... A grande maioria dos expectadores deve ter entendido na primeira cena que dentre todas as outras, Anna provavelmente é o amor verdadeiro de Nemo e mesmo tendo seus momentos de tensão, conflito e sofrimento, essa é a realidade que teria o melhor (ou o único minimamente feliz) final.

As feições apáticas e drogadas que caíram tão bem para Jared Leto em Requiém para um sonho são novamente aproveitadas aqui para mostrar um Nemo Nobody que, independente dos diferentes caminhos que sua vida tomou (ou tomará), ele sempre estará pronto com sua cara de cachorro pidão e seus olhos sofridos, mesmo quando supostamente está feliz. Isso tem um impacto tão considerável no significado do filme que fica difícil acreditar que é simplesmente incapacidade do ator de dar um pouco mais de vida em algumas passagens e que talvez sua escolha tenho sida exatamente por isso.

Apesar de alguns pedaços de estória interessantes, como a realidade que envolve a personagem de Sarah Polley (na versão adulta), Mr. Nobody é tão largado à maré que como narrativa, decepciona bastante. Como outdoor para um diretor mostrar todas as técnicas que aprendeu na escola de cinema e mais algumas que patenteou ele mesmo, ele funciona perfeitamente.

PS. - Apesar de não haver muito em comum entre os dois, por algum motivo que não sei explicar, Mr. Nobody me fez lembrar muito o ótimo Donnie Darko. Se essa resenha não servir para nada mais, pelo menos me atiçou para rever esse filme surreal e pouco divulgado. Fica a dica para quem ainda não o viu.

7 comentários:

Anônimo disse...

Essa opinião é a mais clara prova de que saber palavras bonitas não significa ser inteligente (:

Rodrigo Zago disse...

Certamente que não significa, afinal a literatura e o próprio cinema estão repletos de personagens que são a personificação disso (palavras bonitas desprovidas de inteligência... Assim como de personagens com frases definitivas que não definem nada.

Em termos conceituais, essa opinião acima só é a "prova clara" de que alguém tem uma opinião muito diferente da sua, Anônimo, sobre esse filme.

Para qualquer inferência sobre a inteligência dessa opinião, seria necessário um pouco mais de desenvolvimento, mesmo que com palavras "feias". :-)

Não concorda?

Thomas disse...

Cara... você não curtiu o filme porque nunca tomou LSD... a viagem é a mesma que uma badtrip de ácido... daquelas que você toma tanto ácido que não consegue voltar... fica uns 2 dias sob o efeito... sente desespero, paixão, bem-estar e mal-estar... não consegue diferenciar o que é real ou não... só tendo uma badtrip dessas pra entender o filme...

Rodrigo Zago disse...

Thomas,
Se para curtir o filme, você teria que ter tomado LSD alguma vez na vida, a audiência ia ficar um pouco restrita talvez...
Será que era essa mesmo a intenção do diretor e do roteirista do filme? Se for, acho que conseguiram um bom resultado. :-)
Abs,

Anônimo disse...

Este filme é muito, muito ruim! Arrastado, chato e longo como o Enter The Void do Gaspar Noé. Ele me lembrou Inception e há uma conexão pelo fato dos sonhos de felicidade dos dois personagens principais em ambos os filmes. Sou aficionado por sci-fi e mindfuck. Donnie Darko é uma obra-prima e é meu filme número 1. Há coisa muito melhor por aí como: The Holy Mountain, Avalon, Equus, Until The End Of The Wold (memos com 5 horas de duração), Kontroll para citar alguns. Daniel Brasil

Anônimo disse...

Um ótimo puzzle-movie que assisti recentemente com comédia, sci-fi, drama é The Nint Configuration. Um filme simples, uma crítica ácida aos destroços mentais que a guerra faz na cabeça dos combatentes. Um mindfuck muito legal. A tiração de sarro com 2001 é outra sacada, um dos personagens imitando os astronautas falando pausadamente e com o fôlego dificultado como em 2001 é demais. Uma crítica sobre as "grandes conquistas" espaciais também. Longe de ser claustrofóbico e devastador como Arrebato (1980), Johnny Got His Gun, Wake In Fright e The Handmaids Tale. Mas vale a pena conferir. Daniel Brasil

Anônimo disse...

Bem o q eu entendi foi que tudo no filme gira em torno do tempo e do espaço dependendo das escolhas não só do Sr.Nobody mas também das pessoas q o cerca, até o clima pode influenciar no rumo dos fatos.Talvez ele nem mesmo tenha tido uma história pra contar pq os pais podem nunca terem se conhecido.O repórter não entendeu muito a história sem pé nem cabeça dele pois era imortal e nao tinha a noção do tempo. A história que mais me chama a atenção é a de Anna e quando ele faz um círculo no chão e fica esperando ela chegar o que na minha opinião foi uma atitude desesperada de querer prendê-la em um lugar onde nem o espaço e nem o tempo atrapalhem,eternizando o romance.