domingo, 12 de setembro de 2010

True Blood: Terceira Temporada


Se não fosse HBO...

No estilo crítica-que-tarda-mas-não-falha, aqui estou, por dever de "ofício", fazendo o fechamento da terceira temporada de True Blood mesmo que a quarta já siga a meio caminho da conclusão. Por enquanto, só tive o (des)prazer de checar o primeiro episódio da nova temporada e ele não fez nada para dirimir minha sensação de que o projeto de Alan Ball começou seu declínio já no final da primeira temporada e não achou mais o caminho de volta.

Isso não quer dizer que não há esperança alguma para a série, muito pelo contrário. Estamos falando de HBO, então podemos contar com pelo menos um mínimo de qualidade visual, erotismo e bom humor, o que garante em qualque caso pelo menos um programa mediano. Estabilizando-se nesse patamar, é possível continuar assistindo na inércia por muitas outras temporadas. O único risco é a tendência decadente e cada nova temporada continuar a ser pior que a anterior. 

O que aconteceu afinal? Parece-me basicamente que os diálogos carregados de referências e sacadas inteligentes da primeira temporada deram lugar em algum momento para outros que, traduzidos para o português seriam dignos da obra-prima "Os mutantes/Caminhos do coração" da Record. Os próprios atores, nessa terceira temporada, não conseguiam mais atuar com a cara limpa algumas falas toscas e em alguns momentos foram obrigados a parodiar o próprio personagem, exagerando alguns traços exageradamente deixando cenas supostamente dramáticas ou tensas a poucos passos da comédia involuntária: Bill e Sookie foram os que mais protagonizaram esse tipo de situação.

Além disso, por mais que houvesse algum esforço por parte dos roteiristas de tentar dar credibilidade ao bando, os lobisomens simplesmente não disseram a que vieram. Se já não fosse a inevitável comparação com um "Eclipse" hardcore, eles não acrescentam nada a um universo que já contava com transmorfos (Sam e cia.). A artificial ligação que se quis criar entre lobisomens e vampiros, a qual obviamente não é uma exclusividade de True Blood, poderia ter funcionado na série se os roteiristas tivessem se empenhado em criar uma mitologia própria como fizeram para a bacante da temporada anterior.  E eles foram só mais um elemento em uma temporada que abriu a porteira para vários outros seres especiais entrarem.

Como comentei recentemente ao avaliar Harry Potter, Rowling tinha pelo menos um grande talento: mesmo juntando dezenas de idéias plagiadas (ou "referência") diferentes, ela consegue colocá-las em um enredo único e coerente. True Blood abriu a sua sacolinha mágica e enfiou vampiros, lobisomens, transmorfos, bacantes, bruxas e fadas em um só universo (um limitado universo chamado Bon Temps) e parece que esqueceu de ou não se importou em alinhavá-los de uma forma mais coesa. 

Essa terceira temporada porém, só não naufragou porque o rei louco Russelll e o psicopata Franklin em suas relativamente poucas aparições (especialmente o segundo) garantiram o interesse. Foi bom ver que o viés político da relação humanos-vampiros deu sinais de vida com o (consideravelmente exagerado) assassinato perpetrado em cadeia nacional. True Blood continua sendo um programa de alta qualidade, mas está bem longe do que poderia ser, vivendo das glórias do passado e abusando da combinação drogas, sexo e violência para esconder a falta de roteiro. 

Vamos ver quais vão ser as armas dessa quarta temporada para manter o interesse sem se perder nas dezenas de narrativas abertas e na sua cada vez mais numerosa galeria de seres fantásticos.

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