segunda-feira, 24 de maio de 2010

Lost


 A conclusão de uma saga sem conclusão

Depois de seis longas, sofridas e fantásticas temporadas chega ao fim o maior fenômeno da televisão atual. Ainda que "televisão" seja extremamente limitador: inclua-se também internet, telefones celulares, livros, quadrinhos, feiras e até onde mais os produtores da série conseguissem estender a saga de Jack e companhia.

Não há a menor dúvida de que a última temporada como um todo, deixou órfãos todos aqueles que assistiam ao seriado esperando respostas para as dezenas de mistérios criados ao longo dos últimos anos. Arriscaria dizer que esse grupo inclui TODAS as pessoas que se deram ao trabalho/prazer de assistir a mais de oitenta horas de estórias.

O último episódio, no entanto, terminou com dois tipos de expectadores grudados na frente da TV: aqueles que continuaram irados com os autores/produtores da série pela "enganação" de não entregarem o que não prometeram e aqueles que "compraram" a resposta que explicaria tudo o que não ficou explicado: "o que importa é a jornada" e "tudo é arbitrário". O primeiro grupo terminou como Ben e ainda vai demorar a se sentir "pronto" para deixar para trás e o segundo, como Jack, já reconheceu que foi uma experiência e tanto, valeu a pena e bola pra frente.

Nesse sentido, foi um final que cumpriu seu papel, e particularmente estou entre aqueles que consideraram-no satisfatoriamente emocional, compensador e coerente com a série como um todo.

Não explicou nada do que se esperava, mas pelo menos deixou explícito e claro que o importante não era conseguir as respostas para os mistérios da ilha em si, mas sim a jornada de cada um dos personagens em busca de propósito e de redenção, o que no final das contas todos eles alcançaram de uma maneira ou de outra tendo a ilha e seus mistérios como o mecanismo catalisador...


Alguns fechamentos foram mostrados na tela (em especial o de Jack), outros foram mencionados (como Ben sendo pro Hurley, o que Jacob nunca deixou que fosse para ele) e outros ficaram a cargo da imaginação (a vida de Claire e Kate cuidando de Aaron, Sawyer fora da ilha etc.)

As cenas finais dão algumas dicas pra que os fãs terminem de concluir aquilo que não ficou explícito na série em si: arbitrariedade. Porque algumas coisas aconteceram de certa maneira? Porque eram as regras de Jacob, ele que as inventou. Jack posteriormente inventou as dele e a estória tomou um ritmo direto e completamente diferente do resto da série inteira (ainda que a conclusão específica do feudo Jacob-Fumaça Negra tenha ficado com um ar de "ninguém tinha plano porcaria nenhuma) e Hurley fará as coisas de um outro jeito, então não importa...

Na sala com os símbolos religiosos de tudo quanto é religião relevante, somos lembrados exatamente disso: é tudo questão de fé, de acreditar em algo e aquilo se tornar a verdade para você como em qualquer religião. Jack finalmente percebe isso próximo do final (quando pega um garrafinha de plástico qualquer e "adapta" o ritual de passagem de bastão para Hurley). "Acredite e será salvo", simples como isso...

O que ficou por explicar, em sua grande maioria, pode ser explicada pelo que cada um tirou da estória. Considerando que não há mais informação a ser dada, cada um pode pegar o que tem disponível e explicar da sua própria maneira. Óbvio que eles não planejaram tudo que foi feito pelo caminho e claro que não tinha uma resposta pensada pra tudo, mas o mais importante é que eles deixaram suficientemente em aberto para que cada um fechasse como quisesse (uma passada de olho nas teorias escritas por fãs no Lostpedia e rapidamente se encontram várias conclusões bastante satisfatórias e coerentes com o mostrado na tv).

Por mais novela das oito que tenha sido o final em si, foi emocionante ter uma última chance de ver personagens aos quais você se apegou finalmente tendo um "final feliz" e percebendo que eles viveram o que tinham para viver, chegando no fim com aquilo que era importante: um vínculo tão forte com outras pessoas a ponto de "criarem um mundo" para se reencontrarem.


Compensador também ver o quanto os atores em si amadureceram nos últimos anos... Se pegarmos o trabalho mostrado por Matthew Fox e Josh Holloway no começo da série e compararmos com a carga emocional que eles jogaram nas melhores cenas desse episódio, nem parecem ser os mesmos atores. Todos conseguiram entregar o que era esperado deles e muitas cenas ficaram irretocáveis, como a do encontro de Sawyer e da Juliette (esperado durante toda a temporada desde a morte dela no primeiro episódio.

Outro ponto interessante desse episódio foi a carga metalinguística muito mais óbvia que em qualquer outro: Kate tirando sarro do nome óbvio do pai do Jack "Christian Shephard", Sawyer mandando um "foi a enganação/truque (con) mais longo e elaborado da estória", outro personagem contestando as regras arbitrárias e ouvindo um "Confie que é assim e pronto" e a mensagem principal: o que interessa é o que você viveu e sentiu assistindo, agora chegou ao fim e é hora de dar um "let go" and "move on" e ficar com as boas lembranças de seis anos de ótimas estórias.

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