segunda-feira, 30 de julho de 2007

A revolta de Atlas


Bastiões da moral e da virtude

A revolta de Atlas é um romance de mistério, mas ao mesmo tempo é um manifesto filosófico e é também um clássico da realidade distópica, no melhor estilo 1984. É classificado como ficção por seu enredo, mas poderia perfeitamente constar da categoria não-ficção por seus diálogos e discursos e sua defesa ferrenha de uma ideologia.

Na filosofia objetivista de Rand que permeia todas as páginas do livro percebe-se a influência de conceitos como o Übermensh de Nietzsche, a "mão do mercado" de Smith, a lógica de Aristóteles e muitos outros que de uma maneira ou de outra estão ligados ao individualismo e ao liberalismo defendidos pela autora. É uma argumentação contundente a favor do sistema capitalista e um painel sobre os horrores de um mundo em que a individualidade é sufocada pelas necessidades e desejos de uma massa etérea chamada de coletividade. 

Ao contrário do que normalmente se espera de bons personagens literários como ambiguidade e profundidade psicológica, os heróis de A revolta de Atlas são seres acima da humanidade, maiores que a vida, representantes de conceitos e idéias muito mais importantes do que eles mesmos. Longe de serem minimamente reais, não há como identificar-nos com eles, pois não são simples humanos, mas sim arquétipos, seres idealizados a serem admirados e espelhados pelas suas inabaláveis e coerentes ética e moral.

No sentido oposto, os vilões do livro são abjetos, odiáveis e aterradores e ainda que Rand dê uma chance de redenção a eles, transformando-os em meros elementos condutores para a ação de um mal maior e absoluto, ela não perdoa a fraqueza moral e falta de virtudes desses personagens. Ela, como seus protagonistas, é irredutivel e não concede compaixão aqueles que não fazem por dela merecer. Melhor ainda, ela considera compaixão justamente uma das raízes do fortalecimento do mal absoluto.

Dagny Taggart, diretora de operações da ferrovia Taggart Transcontinental, e Hank Rearden, CEO da siderúrgica Rearden Steel, são dois dos melhores personagens que já tive o prazer de acompanhar. Segui sua estória, temendo por seu destino e torcendo para que a cada novo desafio que seus inimigos lhes impusessem eles saíssem deles mais fortes e ainda mais inabaláveis. Por outro lado, odiar James Taggart ou o Dr. Floyd Ferris é fácil, catártico e libertador. 

Os mistérios que Rand vai criando ao longo do caminho desde a primeira página - "Quem é John Galt?", o crescente nível de ameaça, a trilha para o apocalipse de uma nação e talvez do mundo, garante que você continue a virar páginas e mais páginas e não querer largar mais o livro. Infelizmente, estamos falando de uma estória que, em letras pequenas, ocupa mais de mil páginas. E nem tudo são aplausos para elas.

O livro é extremamente repetitivo: a cada pequena evolução da estória, Rand pára e destila sempre os mesmos argumentos por vários parágrafos, reescrevendo a mesma coisa de centenas de maneiras diferentes. Além de interromper o fluxo da narrativa com uma frequência irritante, o discurso passa a ter um aspecto "lavagem cerebral" que é justamente a ferramenta comumente utilizada pelos que se opõe a ela - vide novamente o clássico 1984.

Um livro fantástico que só não alcança a perfeição porque faltou um editor de pulso firme que podasse a verborragia da Sra. Rand.

Um comentário:

Rodrigo Zago disse...
Este comentário foi removido pelo autor.