sexta-feira, 15 de julho de 2011

Harry Potter e as Relíquias da Morte


Conclusão à altura

Direção: David Yates
Título original: Harry Potter and the Deathly Hallows - Part I and II
Duração: 130 min
Idioma: Inglês
Lançamento: Jul/2011

Fechando a que talvez seja a mais longa série de filmes da história (considerando aquelas que efetivamente formam um conjunto único e possuem uma conclusão e não são simplesmente parte de uma franquia), Harry Potter e as relíquias da morte não decepciona. Como assisti as duas partes com uma diferença de uma ou duas semanas, deixo aqui meus comentários para as duas de uma só vez.

A primeira, lançada em 2010, segue muito mais devagar e espelha o cansaço que a primeira metade do livro também causa no leitor: pouca ação, planos mais longos, situações paralelas que parecem não acrescentar nada ou adiantar a estória principal. Apesar de parecer uma característica ruim, esse "prólogo" é essencial para a construção do clima necessário para garantir a dramaticidade do segundo ato. Essa primeira parte dá a medida da desolação e do desepero dos personagens que vai aumentando ao ver seus esforços gerarem cada vez menos resultados, o mundo continuar a ruir a seu redor, os sacríficios acumularem-se e a esperança ir sufocando aos poucos.

A segunda parte, livre da necessidade de criar a ambientação correta, pode concentrar-se na ação e em dar a seus principais personagens um momento para brilhar. Hogwarts, como em nenhum outro filme, torna-se um cenário fantástico e amedrontador que envolve completamente o expectador em suas sombras e os embates ganham contornos épicos, ainda que isso signifique o tradicional uso de alívios cômicos de tempos em tempos que quebram desnecessariamente a tensão.

Infelizmente, fantasmas, duendes e varinhas mágicas criam um efeito estroboscópico fantasioso que ainda assim não consegue disfarçar a sensação de um Deus Ex Machina constante, culpa da estrutura do próprio livro e não do filme em si. Tudo parece se resolver muito fácil, porque em um mundo em que basta proferir duas palavras para parar uma queda, não há porque você temer por personagens que caem em um abismo. O diretor consegue criar mecanismos e tentar dar um pouco mais dramaticidade para uma morte instantânea causada pela pronúncia de duas palavras. Ele acerta na maior parte do tempo, mas em outras o resultado fica muito aquém - como, por exemplo, na aparição final de Bellatrix.

E depois de quase dez anos, Daniel Radcliffe finalmente consegue tornar-se Harry Potter não só por "direito", mas também "de fato". Sua atuação afinal atinge a maturidade e ele consegue transparecer o cansaço e a angústia crescente de um personagem obstinado que acumula perdas para cumprir um destino que ele nem ao menos escolheu - qualquer semelhança com os principais mitos da humanidade é meramente coincidência. Aplausos então para o ator que agora vai ter que chamar muita atenção para conseguir se livrar do fantasma de Potter (não que ele precise depois dos milhões que o bruxo já rendeu).

Seus fiéis companheiros de tela, Emma Watson e Rupert Grint já haviam achado o tom de seus personagens em filmes anteriores (ela praticamente desde o primeiro), mas também conseguem espaço para brilharem várias vezes nesse final. Mesmo outros personagens e atores menos proeminentes ganham seus momentos em um dos filmes ou nos dois, especialmente Matthew Lewis (Neville Longbottom) e Maggie Smith (Minerva McGonagall).

Mas ainda assim, mesmo com menos tempo de tela, facilmente o que há de melhor no elenco é Alan Rickman que merecia um Oscar pela sua atuação contida e meticulosa e seu discurso tenso e poderoso no salão comunal de Hogwarts. Para completar seu personagem é o protagonista da melhor sequência do filme em que a emoção dispara em cenas muito bem construídas, um flashback efetivamente "mágico" e uma reviravolta que, ainda que um tanto óbvia, consegue credibilidade justamente por causa da dedicação de Rickman à construção de Snape.

É bem verdade que nada, ou ao menos pouca coisa, é original em Harry Potter, mas nunca uma salada de referências (ou plágios) foi tão bem harmonizada ou gerou um universo tão coeso com partes se encaixando tão bem no todo. Cada livro ou filme tem estórias fechadas e independentes e ao mesmo tempo são individualmente essenciais para a construção e para a carga dramática desse épico desfecho.

Então, longe de ser perfeito, Harry Potter e as relíquias da morte é um ótimo filme que só não tem sucesso onde o seu material de origem já não tinha tido antes e é de longe o melhor de todos os oito (ou sete se considerarmos os dois últimos como uma só obra) da série. Melhor para quem acompanhou todos eles, mas recomendável mesmo para quem simplesmente quer só escapar para uma outra realidade e se deixar perder em uma boa estória por algumas horas.

P.S. - Era óbvio que não havia qualquer possibilidade do final ser diferente do livro, mas juro que fiquei com uma pontinha de esperança de que com a descoberta da natureza da "última relíquia" caminhássemos para um outro desfecho, um que transformaria uma sensacional série literária (ou multimídia) em um irretocável patrimônio da humanidade. A escolha de desfecho menos corajosa e mais apropriada comercial e editorialmente nos deixou com as banais três ou quatro páginas do livro ou os deslocados minutos finais do filme. Merecia uma conclusão mais em linha com o fenômeno que foi, mas nem por isso deixou de ter um mais do que digno adeus.

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