sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Triângulo do Medo

Método sem contexto


Direção: Christopher Smith
Título original: Triangle
Duração: 99 min
Idioma: Inglês
Lançamento: Out/2009


“Se naum gostarão é porque naum intenderão, esse filme é dimais!” é um comentário sobre “Triângulo do medo” relativamente típico e fácil de ser encontrado pela rede. E comentários do tipo dizem muito sobre o filme. Afinal, mesmo quem conseguiu passar pela escola (ou ainda está nela) sem entender regras básicas do nosso idioma consegue apreender as regras desse filme. E aparentemente é capaz de não só entendê-lo, mas (ou “mais” para eles) também ficar tão orgulhoso de tê-lo feito a ponto de se revoltarem quando confrontados com a verdade de que ele é, quando muito, mediano.

A verdade é que, apesar de ilusoriamente confuso, o mecanismo (ou “sacada”) que complica o filme é detalhado e repetidamente explicado e as tomadas são simples e diretas como a de uma novela de forma a minimizar quaisquer dúvidas em relação ao que está acontecendo.

Volta e meia alguns filmes “confusos” geram esse tipo de reação “ame” ou “odeie”, tais como Mr. Nobody e A origem, já resenhados aqui no blog, ou Donnie Darko, mencionado em outra resenha. Esses exemplos, porém, são completamente distintos de Triângulo. Mr. Nobody tem um mecanismo ruim e mal desenvolvido, mas vale pela vontade do diretor de inovar nas tomadas, enquadramentos e afins. Donnie Darko foca na estranheza de seus personagens e o mecanismo apenas os torna mais cativantes. A origem tem um mecanismo elaborado e com regras próprias e o usa para desenvolver o envolvente drama de um dos personagens..

Triângulo do medo, no entanto, é apenas e tão somente o seu próprio mecanismo, o que o torna insosso e repetitivo, e como filme em si carente de quaisquer atrativos. Seria um ótimo episódio de “Além da Imaginação”, onde a ideia vale muito mais do que o conteúdo ou a execução – infelizmente para os espectadores ele é muito mais longo que o típico episódio de uma série. É um bom filme-exercício, realizado com esmero e esforço, mas que não tem uma história de verdade para contar.

À primeira vista, a julgar pelo título em português, estamos falando de um terror qualquer. Desse gênero, porém, Triângulo apenas rouba temporariamente alguns clichês a fim de enganar o espectador com relação a seu verdadeiro objetivo. E talvez seja nesse “truque” que ele apresente uma de suas principais fraquezas: o mecanismo não dependia dos elementos de terror para funcionar, e pior, esses elementos acabam não fazendo sentido considerando a pífia e preguiçosa explicação para o próprio mecanismo.

Em “Triângulo do medo”, o foco de todo o tempo de projeção está em garantir que o mecanismo seja hermético, sem falhas, imune a qualquer crítica e nisso alcança sua meta: realmente o filme “faz sentido”. Só que infelizmente isso não faz dele um bom filme. Na ânsia de explicitar cada detalhe, sobra muito pouco tempo para qualquer tentativa de desenvolvimento dos personagens e muito menos para a criação de um enredo propriamente dito que desse contexto para o mecanismo – esse acaba não sendo um meio para contar a história e sim sendo ele mesmo a história.

Tomemos outro exemplo em “O sexto sentido”, o filme também se apoia em um mecanismo, com a diferença de que nele o diretor tem espaço suficiente para fazer você se importar com os personagens principais e criar cenas que isoladamente são memoráveis independentemente da sacada no final. Essa, inclusive, funciona particularmente bem porque você se envolve tanto com o desenvolvimento da história que não fica prestando atenção no mecanismo em ação.

Em Triângulo, ao contrário, você passa a maior parte do tempo sendo guiado pelas mãos através do conceito: uma personagem te explica logo no início a referência mitológica que o justifica (o que tira a oportunidade de você percebê-la por si mesmo), outro  personagem explicita porque toma determinadas atitudes (o que você facilmente teria deduzido pelo desenrolar dos eventos), e você tem pelo menos umas quinze oportunidades diferentes (entre cadáveres, colares, rabiscos em papéis, gaivotas e outros) de entender o mecanismo e azar o seu se as duas ou três primeiras já tiverem sido suficientes porque não há conteúdo para preencher os próximos cinquenta minutos, então você vai continuar sendo bombardeado até que se sinta tão esgotado quanto a personagem principal.

Mais um filme em um curto espaço de tempo assistido inadvertidamente ao zapear canais. Começo a sentir-me como Sísifo, condenado a repetir eternamente os mesmos erros e a gerar resenhas com referências tão sutis e ligeiramente inadequadas quanto às do filme resenhado.

2 comentários:

Patrícia disse...

Bá, é o que eu pensei sobre o filme. Tudo bem, ele tem sentido, mas não é legal. Li muito que ele era um filme inteligente, mas será que só isso realmente basta?

Rodrigo Zago disse...

Concordo com você, Patrícia. Fazer sentido não é o suficiente para um filme ser bom. Personagens com os quais você se importa, um roteiro interessante, tudo isso também conta. Triângulo do Medo tem uma ótima "mecânica", mas não é um bom filme.