segunda-feira, 27 de julho de 2015

Wayward Pines

Shyamal... Quem?

Temporadas: 1
Episódios: 10
Situação: Concluída
Emissora: Fox
Showrunner: Chad Hodge (M. Night Shyamalan como produtor-executivo)

Imagine um giroflex com sua intensa luz vermelha girando na escuridão acompanhada de uma insistente sirene zunindo irritantemente e impedindo que você consiga pensar em qualquer outra coisa. Com essa imagem quero deixar dois alertas para você: passe longe de Wayward Pines e, caso vá ignorar o primeiro aviso, saiba que os próximos parágrafos vão estar repletos de spoilers.

Vendida como "Twin Peaks encontra Lost" e ostentando a "grife" M. Night Shyamalan (Sexto Sentido e... Outros filmes ruins), Wayward Pines deveria pagar penitência (Shame! Shame!) por sequer ousar comparar-se a esses marcos da televisão norte-americana. Há muito pouco da atmosfera fantástica e bizarramente familiar do show de David Lynch e menos ainda da estrutura narrativa inovadora ou da construção eficiente de mistérios da série de J.J. Abrams e Damon Lindelof.

Wayward Pines é amaldiçoado por diversos problemas, mas a escalação de Matt Dillon como protagonista, um ator que consegue declamar a frase "Você quase matou meu filho!" com a mesma entonação que ele diria "Adoro sorvete de pistache", talvez seja o mais evidente. Seu discurso é monotônico e carregado de uma empostação ridícula e seu rosto alcança no máximo umas duas ou três variações de expressões, sendo que o ator sempre escolhe a menos adequada para cada momento. Outros programas conseguiram se safar tendo canastrões como protagonistas (Prison Break vem logo à mente), mas só conseguiam faze-lo por conta de um roteiro bem estruturado.

A trama de Wayward Pines nasce de uma premissa interessante e com algum potencial, mas que é mal utilizada, focando nos ângulos incorretos e apressada por uma necessidade inexplicável de construir "viradas" a cada quadro (Shame! Shame! Shyamalan...). A construção dos principais dramas pessoais é rasteira e clichê, as resoluções dos conflitos são desencontradas e anti-climáticas, os acontecimentos mais expressivos não tem consequências à altura, pois o enredo quer partir imediata e rapidamente para a próximo momento "A-há!".

O programa, que visivelmente estrutura-se para ser um mistério, consegue abusar constantemente do pior inimigo do gênero: a exposição. Tudo é explicado da maneira mais literal possível. Não há espaço para ambiguidade e para que os expectadores confabulem acerca de suas próprias teorias. Uma decisão de direção tão errada que, a maior revelação chega na primeira metade de episódios, sem deixar qualquer espaço para dúvidas e simplesmente torna irrelevante tudo o que vem depois dela.

A enfermeira Pam, interpretada pela veterana, Melissa Leo, é a personificação dessa bola de neve expositiva que desce das montanhas geladas de Wayward Pines para atropelar o espectador desavisado. Assim que conhecemos Pam, ela mostra-se um mix de sadismo e reticente loucura que rouba todas as cenas (ainda que, dividindo a tela com Dillon, isso seja o equivalente ao proverbial roubar doce de crianças). A partir da revelação principal, ela vai veloz e inexplicavelmente tornando-se uma personagem amorfa e insossa até que (pobre Melissa) termina espremida dentro de um ridículo colante prateado tentando dar dramaticidade a uma cena que já está longe de qualquer salvação. 

Ao invés de trabalhar as questões existenciais e sociológicas que o seu cenário engendraria, Chad Hodge, o showrunner, prefere focar seus esforços na ação, em dramalhões rasos e mal construído, em proto-romances desnecessários e numa discussão sobre o autoritarismo conduzida sem qualquer sutileza. Nas mãos de bons diretores e roteiristas, a premissa de Wayward Pines poderia render muito mais mistério, tensão e arrebatamento.

Inclusive não é preciso forçar a imaginação para constatar o que a série poderia ter sido, pois os primeiros episódios apresentavam alguns bons indícios da direção correta. Neles, você tinha a participação de ótimos atores e atrizes que realmente captaram o espírito - Terrence Howard (Homem de Ferro, Crash) que fez um xerife maníaco e simpaticamente aterrorizante e Juliette Lewis (Assassinos por Natureza) que fez, bem, mais uma versão de Juliette Lewis, ou seja, alguém de quem você nunca sabe onde acaba a dissimulação e começa a loucura, são ótimos, porém não os únicos exemplos. Nos poucos episódios em que eles aparecem, o enredo foca em construir narrativas possíveis, expandir cenários, criar atmosfera e não muito depois que eles deixam o elenco, a história entra numa espiral auto-destrutiva sem muitas explicações.

Como M. Night Shyamalan ainda consegue financiamento para os seus projetos depois de anos de fracassos é o mistério mais intrigante que você vai encontrar em Wayward Pines. Diferente de todos os outros que são explicados em detalhes não solicitados, esse ainda vai ficar em aberto. Suspeito que não seja a última vez que ouvimos o nome que ninguém sabe pronunciar, mas espero que nenhum executivo da Fox aprove uma segunda temporada para essa série (Shyamalan já deu entrevistas falando que têm "boas ideias" para uma continuação). Eu já cumpri mais do que meu dever ao me arrastar até o final dessa primeira empreitada e não contem comigo para fazer o mesmo num possível retorno dessa bagunça. Vai ter quem goste, com certeza, mas como dizem por aí, opinião é como... bicicleta e cada um tem a sua.

Um comentário:

Unknown disse...

Puta que pariu, eu não vejo um comentário construtivo, uma crítica embasada. Falta inteligência. Até para falar mal de alguma coisa, é preciso ter um profundo entendimento dessa coisa. É muito fácil assistir algo, pescar supostos erros, sair falando mal, difamando artistas que não gosta, enfim quem não tem argumento, faz teatro.