sexta-feira, 25 de março de 2011

Sem limites

Diga sim às drogas

Direção: Neil Burger

Título original: Limitless
Duração: 105 min
Idioma: Inglês
Lançamento: Mar/2010

Sem limites tem três grandes trunfos a seu favor. O primeiro deles é a câmera nervosa de Neil Burger; ela abre para além de uma grande angular afim de registrar uma nova perspectiva, ela voa veloz com os pensamentos do personagem pelas ruas de Nova York, ela vira de ponta-cabeça quando o mundo de Edie (o protagonista) também o faz, ela foca em objetos distantes aguçando ao mesmo tempo a percepção dos expectadores e a do personagem, ela pisca e apaga por alguns segundos simulando uma amnésia narcótica, ela fica difusa e liquefeita nas extremidades enquanto os efeitos da droga se dissipam... Enfim, praticamente todos os efeitos possíveis são tentados na busca por uma imagem que defina uma nova percepção mental à qual, por premissa, não temos acesso. O segundo trunfo chama-se Bradley Cooper, um ator que inesperadaemnte consegue transitar de um perdedor completo para um charmoso, hiperativo e egocêntrico sabe-tudo, e manter a audiência torcendo por ele mesmo nos seus piores e amorais momentos. Sobre o terceiro e maior trunfo do filme não é possível comentar aqui sem tirar parte do prazer em assistí-lo, mas vale mencionar que ele está na (des)construção inteligente da narrativa que apóia-se em um gênero, transita (aparentemente de forma involuntária) por outros, até inesperadamente fazer com que você saia do cinema reavaliando quase inconscientemente os sentimentos que havia mantido na última uma hora e meia pelo filme.

Esses trunfos, em especial a atuação de Cooper e a direção de Burger, amplificam e dão muito mais cores a um roteiro bastante tradicional e formulaico. Ainda que parte da aparente falta de originalidade seja proposital, necessária para impedir que a audiência espere mais do filme, "aguce" sua percepção e perceba padrões antes do momento devido, fica ainda a impressão de que os roteiristas de Sem Limites não tomaram NZT para auxiliá-los na construção da história. Além disso, a agilidade da câmera e o sorriso-de-um-milhão-de-dólares de Cooper parecem querer esconder as falhas ou não deixar espaço para questionamentos sobre as óbvias (a posteriori) incongruências da trama, quase todas relacionadas a reviravoltas que, se nós na audiência poderíamos prever com facilidade, quem dirá um indivíduo com "QI de quatro dígitos". Para não falar de algumas pontas soltas, que, com boa vontade, você poderia classificar como intencionais dada à desconstrução em certa altura de algumas premissas equivocadas em que a audiência estava se apoiando. Isso seria dar mais crédito ao roteiro do que talvez ele merecesse, mas minha simpatia pelo filme me permite dar esse benefício da dúvida.

Enfim, sem muito marketing (aparentemente não só aqui, mas nos EUA e Europa também), Sem Limites já começa a se vender no boca-a-boca - uma estratégia muito mais válida para segurar as poucas e boas reviravoltas do filme ainda surpreendentes - e deve alcançar a bilheteria que um ótimo, ainda que não excelente, filme merece.

Sucker Punch - Mundo Surreal

Surrealmente Vazio

Direção: Zack Snyder
Título Original: Sucker Punch
Duração: 110 min
Idioma: Inglês
Lançamento: Mar/11

Qual é a graça de um videogame se você não pode interagir com ele e efetivamente "jogá-lo"? Essa é a pergunta que não quer calar durante toda a projeção de Sucker Punch - Mundo Surreal. Apesar da qualidade gráfica do filme estar acima da capacidade que os melhores consoles podem atualmente alcançar, é impossível não compará-lo às elaboradas "cut-scenes" dos jogos mais recentes, ainda que a comparação, na verdade, seja um demérito para jogos como Metal Gear Solid, Grand Theft Auto ou God of War que possuem roteiros muito mais sofisticados que os do filme de Snyder. 

Estágios com começo e fim bem delineados, objetivos específicos (pegue a chave, pegue o mapa, pegue o isqueiro etc.) e os gêneros mais clichês de games: a decrépita e sombria instituição mental, o bordel abjeto, nazistas demoníacos, o futuro tomado por máquinas, os samurais gigantescos, enfim... falta de imaginação somada a um festival de explosões e fantasias fetichistas que tentam esconder os buracos de um roteiro vazio e,  pior ainda, misógino.

Mulheres em constante ameaça, eminentes vítimas de estupro, violência ou assassinato - objetificação pura e simples disfarçada com alguma mensagem final feminista e moralista que não compensa todos os minutos de poses, caras, bocas e degradação feminina que mal funcionam em um videoclipe de banda adolescente (ruim), quem dirá num longametragem.

Vinte minutos são mais do que suficientes para você descobrir que Sucker Punch não vai dar em nada, mas como as imagens até que são "cool" e a trilha sonora é legal, de repente vale ver descompromissados cinco a dez minutos a cada dia - o que equivale a cada uma das "fases" e é o limite de tempo para o tédio chegar ou sua paciência acabar.